Um estudo conduzido por uma equipa da Universidade de Coimbra (UC) concluiu que a forma como decorre o gerenciamento de resultados (lucros ou prejuízos) utilizando as perdas com empréstimos, pode afetar negativamente a eficiência bancária. A investigação, publicada na revista Finance Research Letters, sublinha ainda a importância da divulgação desta informação, por parte das entidades bancárias, nos seus relatórios e contas anuais, assim como a realização de auditorias internas e externas ao risco de crédito.
Utilizando dados de 70 dos 117 bancos supervisionados pelo Banco Central Europeu (BCE), Catarina Proença, Mário Augusto e José Murteira, investigadores do Centro de Investigação em Economia e Gestão (CeBER) e docentes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), conduziram esta análise, tendo em vista o aprofundamento do efeito do gerenciamento de resultados na eficiência bancária.
O estudo analisou dados de 2013 a 2017, período preparatório da implementação da norma contabilística International Financial Reporting Standard 9 (IFRS 9), que estabelece os critérios de reconhecimento e medição das imparidades de crédito e que veio substituir a International Accounting Standard 39 (IAS 39), que se revelou ineficaz, em particular no contexto da crise financeira de 2007.
A gestão de resultados nos bancos mede-se através de imparidades de crédito discricionárias, que são definidas por decisão dos administradores, e de imparidades de crédito não discricionárias, que resultam da legislação ou regulamentação em vigor. “Ainda que sejam legais, as imparidades de crédito discricionárias podem desviar-se do espírito das normas contabilísticas, o que se reflete, por exemplo, nas informações privadas sobre perdas de crédito esperadas, às quais os administrados dos bancos têm acesso”, elucidam os autores.
A investigação incluiu dados de dois bancos portugueses, o Banco Comercial Português, S.A. (BCP) e a Caixa Geral de Depósitos, S.A. (CGD). Ao nível da sua eficiência bancária, em 2013, na lista dos 70 bancos europeus analisados, estes bancos encontravam-se nas posições 56.ª e 53.ª, respetivamente. Em 2017, verificou-se uma melhoria significativa da eficiência destes bancos, tendo passado a ocupar as posições 30.ª e 32.ª. Analisando os recursos utilizados no cálculo da eficiência, verifica-se que os juros pagos neste período diminuíram cerca de 74%, no caso do BCP, e 61% no caso da CGD, e os gastos com pessoal 32%, para o BCP, e 17%, para a CGD. O cenário vivido entre 2013 e 2017, de diminuição de taxas de juro e despedimentos de colaboradores, explica esta escalada de posições de eficiência nos 70 bancos europeus.