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Bocas do Galinheiro O ciclo anual dos incêndios

12-08-2025

Ao ritmo a que se sucedem as estações do ano, as estações televisivas repetem ad nauseam as mesmas reportagens estivais. Começam com os primeiros banhos assim que a temperatura sobre uns grausitos, aí por Abril, tanto mais que às vezes o 25 ajuda quando permite a esperada “ponte” e, quando o calor chega a sério, o que acontece todos os anos, que é o tempo mais quente a seguir à Primavera, sabendo-se há séculos que o período que agora atravessamos é caracterizado por temperaturas altíssimas, com vento quente e forte, onde está o espanto de acontecerem grandes incêndios? Aliás, o fogo é característico nos países do sul da Europa. Num país que tem das maiores manchas florestais do continente, a ocorrência de incêndios, seja por mão criminosa ou negligente, dá lugar a inenarráveis longos directos, onde são debitados os costumeiros lugares comuns: falta de prevenção, escassez de meios aéreos e humanos (bombeiros exaustos e deslocados para terrenos que desconhecem), a que se seguirá, quando o tempo o permitir, a solene jura de que a comissão ou grupo de trabalho que vai estudar o que aconteceu, entregará uma solução em tempo útil para que o Verão que vem seja diferente. Porém, há questões que persistem, como o minifúndio, a dispersão de muitos focos de incêndio que dificultam um ataque rápido e oportuno que deveria ser de imediato combatido pelas corporações locais e muitas mais. Para o ano? Claro que vai ser melhor!

Porém, diz-me também o meu olhar de espectador atento, de que o problema não é exclusivo de Portugal, longe disso, tendo em conta o razoável número de filmes em que o fogo é protagonista. Como o cinema gosta de invocar os quatro elementos, o fogo não podia faltar.

Não é preciso ir muito atrás para recordarmos Always (Sempre,1989), de Steven Spielberg, em que a intervenção dos meios aéreos em grandes incêndios nos Estados Unidos já era um dos recursos mais usados no auxílio ao combate das chamas. Porém, o filme está longe de se centrar na luta dos aviões contra os fogos florestais: é o remake de um filme de Victor Fleming, A Guy Named Joe (Um Certo Rapaz,1943), com  Spencer Tracy, Irene Dunne e Van Johnson, sendo que na versão daquele a que chamam o Mágico de Hollywood, os protagonistas são Richard Dreyfuss, Holly Hunter e Brad Johnson, nos mesmos papéis e os nomes dos personagens os mesmos, com a nuance de que da II Guerra passámos para as florestas e em vez de bombardear alvos inimigos na Alemanha, bombardeia-se outro inimigo não humano, o fogo. Como era de esperar deste realizador, o filme não é sobre os incêndios (o de Fleming também não era sobre a guerra), mas sim sobre amor e perda. Como atractivo extra a presença de Audrey Hepburn, no seu derradeiro papel no cinema, interpretando o anjo que guia o piloto falecido na terra, o que lhe confere uma posição longe do filme catástrofe.

Neste departamento são várias as escolhas, das florestas aos arranha céus. Em 1977 Earl Bellamy, dirigiu para a televisão Fire! (Céu em Chamas) relato de um fogo posto por um recluso para ocultar a sua fuga, rapidamente ficando fora de controle e o que se segue, num guião nosso conhecido neste interior despovoado, todos os verões, quando as chamas se aproximam de povoações. Já, antes, em 1961, Andrew L. Stone realizou Ring of Fire (Anel de Fogo), quando três adolescentes conseguem manietar os polícias que os prenderam. De repente a povoação está cercada de fogo o que leva os habitantes a fugir. No reverso da medalha temos a série Fire Country, 2022, em que um grupo de reclusos auxilia os bombeiros no combate aos fogos numa região fustigada pelas chamas.

Mas fogo que é fogo no cinema não dispensa um bom combate em arranha céus. Em 1974 John Guillermin tem à sua disposição uma constelação de actores: Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e por aí adiante, em The Towering Inferno (A Torre do Inferno), quando na inauguração de um colossal arranha céus em São Francisco, um incêndio ameaça devorar o edifício e, claro, quem lá está na altura. Um clássico dos filmes do género nos anos 70 do século passado, sempre recheados das estrelas mais rentáveis à época. Não estranha que Bruce Willis e Dwaine Johnson tivessem ido parar a arranha-céus, com muitas chamas e efeitos especiais em respectivamente, Die Hard (Assalto ao Arranha-Céus, 1988)), de John McTiernan e Skycraper (Arranha-Céus), de Rawson Marshall-Thurber, em nobres missões de resgatarem a família.

Claro que outros filmes abordam o tema, mas não podíamos deixar de lembrar aqui o filme sobre o incêndio que não aconteceu. Em 1966 o francês René Clémént reuniu uma grandiosa constelação de actores, maioritariamente franceses e norte-americanos, uma vez que era uma co-produção dos dois países, em Paris brûle-t-il? (Paris Já Está a Arder?).  Apesar desta chuva de estrelas, o filme foi um fracasso. A história por detrás do filme e do livro de que foi adaptada do título homólogo de Dominique Lapierre e Larry Collins, com argumento dos próprios e de entre outros, segundo o Imdb, Gore Vidal e Francis Ford Coppola, essa sim é digna de ser recordada: alegadamente, contrariando a ordem de Hitler de destruir Paris no caso de derrota dos nazis, o general Dietrich von Choltitz negou-se a fazê-lo, daí a pergunta atribuída ao führer, “Paris já está a arder?”. O provérbio é italiano, mas vem a propósito: “Se non è vero, è ben trovato”.

Voltando às reportagens televisivas, já não falta assim tanto tempo para a reportagem anual sobre o primeiro nevão na Serra da Estrela! Até lá.

Bons filmes e até à próxima!

Luís Dinis da Rosa
IMDB
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