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Bocas do Galinheiro Lavagante de Mário Barroso, mas não só

17-10-2025

Logo a seguir à publicação das últimas Bocas, começou um tempo horribilis para o cinema. Neste curto espaço de tempo uma plêiade de actores de mão cheia desapareceu: Robert Redford, Claudia Cardinale e mais recentemente Diane Keaton, vão continuar nos seus filmes, apenas. O que é muito, tendo em conta as riquíssimas obras que protagonizaram e, no caso de Redford e Keaton, realizaram. No mesmo período estreou Lavagante, de Mário Barroso, adaptado de um texto de José Cardoso Pires. Tentaremos chegar a todos!

Resumir a carreira de Robert Redford não é fácil, tanto mais que também queremos dar palco às outras duas protagonistas. Já lhe dedicámos uma crónica, já lá vão uns bons anos, mas Dois Homens e um Destino (1969, George Roy Hill) ao lado de Paul Newman, será sempre lembrado como o filme que o guindou para o estrelato, estatuto que é consolidado em Os Homens do Presidente (1972, Alan J. Pakula) que se baseia numa investigação do Washington Post sobre o Caso Watergate, que levou à queda de Richard Nixon. Mas a sua carreira já vinha de trás: em 1965 aparece ao lado de Natalie Wood em O Estranho Mundo de Daisy Clover, de  Robert Mulligan, voltando os dois a contracenar sob a direcção de Sydney Pollack, realizador com o qual fez sete filmes, em Flor à Beira do Pântano (1966), a que se seguiu Descalços no Parque (1967), de  Gene Saks, ao lado de Jane Fonda. Filmes como África Minha (1985), com Meryl Streep e  As Brancas Montanhas da Morte (1972), também de Pollack, são marcos na sua rica e longa carreira.

Como realizador a estreia não poderia ser melhor. Gente Vulgar (1980), arrebatou o Óscar de Melhor Realizador e de Melhor Filme, com Timothy Hutton a ficar com o de melhor secundário. Com Quiz Show (1974), voltou a ser nomeado para melhor realizador, sendo que os seus últimos filmes, refletem a sua faceta de activista político e cinematográfico (por detrás do Festival de Sundance, que fundou, se bem com outro nome, pilar do cinema independente norte americano), como A Conspiradora (2010), à volta de Mary Surratt, a única mulher presa a seguir ao atentado que vitimou Lincoln, e Regra de Silêncio (2012), ou a história de um antigo activista na clandestinidade, cuja identidade é descoberta por um jornalista.

Claudia Cardinale, que nos deixou a 23 de Setembro, com 87 anos, nasceu em Tunes, filha de pais italianos. Depois de ganhar um concurso de beleza em que o prémio era participar no Festival de Veneza. Tinha 18 anos e não pensava ser actriz. Mas depressa o foi. Com Luchino Visconti faz Rocco e os Seus Irmãos (1960), com Alain Delon e O Leopardo (1963), de novo com Delon e Burt Lancaster e o resto são interpretações que mostraram que não era apenas uma cara laroca. 8 e Meio  (1963), de Federico Fellini e  Aconteceu no Oeste (1968), de Sergio Leone o confirmaram. Também filmou em Hollywood, onde se estreou com O Mundo do Circo (1964), de Henry Hattaway, ao lado de John Wayne e  Rita Hayworth, entre outros em filmes de menor sucesso. Depois do seu divórcio do influente produtor italiano Franco Cristaldi, nos anos de 1970, a sua presença nas telas perde fulgor. Radicada em França, faz muito cinema europeu  com destaque Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog e O Gebo e a Sombra (2012), de Manoel de Oliveira. Em 1993 ganha o Leão de Ouro Honorário no Festival de Cinema de Veneza e em 2002 o Urso de Ouro Honorário em Berlim, para além de outros prémios noutros festivais, como Locarno.

Diane Keaton, que desapareceu no passado dia 11 aos 79 anos, é também credora de uma carreira invejável, onde se destacam os filmes que fez com Woody Allen, tendo recebido o Óscar de Melhor Actriz em Annie Hall, em 1978. Porém, já tinha ganho notoriedade como a segunda mulher de Michael Corleone (Al Pacino) em O Padrinho, de Francis Ford Coppola, papel que assegura nos outros dois filmes da saga, seguramente uma das melhores da História do Cinema. É evidente que os filmes com Allen estarão sempre numa prateleira à parte, não só pela quantidade, mas também pela qualidade. Mas outros papéis foram relevantes numa carreira iniciada em 197,0 em filmes como O Grande Conquistador (1972), de Herbert Ross, com Woody Allen, À Procura de um Homem (1977), de Richard Brooks e, mais recentemente, O Pai da Noiva 1,2 e 3(1991-2020), de Charles Shyer e Alguém Tem que Ceder (2003), de Nancy Meyers, com Jack Nicholson ou os dois Book Club de 2018 e 2023, a que acrescentaria Reds (1981), de Warren Beatty.  Na realização, para além de um episódio de Twin Peaks, julgo não tervisto nenhum filme, tendo dirigido alguns videoclips para Belinda Carlisle. Um céu cada vez menos estrelado no grande écran.

Por cá estreou Lavagante, de Mário Barroso. Pegando na adaptação de António-Pedro Vasconcelos, da última obra de José Cardoso Pires, o realizador, responsável pelo argumento, terá mantido o essencial do trabalho de Vasconcelos e da novela, de que resulta um filme que soube tratar a época, a revolta estudantil do início dos anos 1960, a acção da polícia política ao serviço do regime salazarista, a censura, as perseguições e as prisões, com um subtil toque de film noir. De salientar as interpretações de Júlia Palha, num excelente registo e de Diogo Infante, no cínico esbirro da PIDE, bem acompanhados por Francisco Froes, Nuno Lopes, Leonor Alecrim e Rui Morrison. Aliás tenho para mim que o melhor do filme, para além do cinzentismo da época que o realizador e também responsável pela fotografia soube criar, está o trabalho dos actores. Um  filme  português a não perder.

Bons filmes e até à próxima!

Luís Dinis da Rosa
IMDB
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