
Em ano redondo, seja lá o que isso for, os grandes estúdios descobriram um novo filão: lançamentos de filmes estreados há 40, 50 anos e, vamos encher de novo as salas de cinema. A moda das novas reprises está aí em força.
Este ano voltou o Tubarão (Steven Spielberg), na celebração nos seus 50 anos e está aí Regresso ao Futuro (Robert Zemeckis), curiosamente, ou não, com produção de Steven Spielberg, para lembrar os 40 anos da sua estreia. Mas, já está previsto o regresso em 2027 de Star Wars (George Lucas), a primeira entrega da saga, o então Episódio IV, dum sem fim de sequelas e spin-offs.
Está bom se ver que os filmes seleccionados para estes regressos revivalistas não são uns filmes quaisquer: todos foram estratosféricos êxitos de bilheteira, e deram lugar a sequelas, umas mais bem sucedidas do que outras, mas isso é a lei natural, na vida e no cinema.
Comecemos então pelo seláquio gigante. Estávamos em 1975 quando Steven Spielberg, um jovem realizador que já tinha dado nas vistas com um fantástico filme para televisão Duel (1971) e depois uma aceitável longa-metragem, The Sugarland Express (1974), tem uma ascensão meteórica com este Jaws, quando descobre um tubarão gigante assassino nas praias de Long Island e a caça ao animal, pontuada pela música de John Williams. O resto é da história. Qual Midas, Spielberg transformava tudo, bem, quase tudo, em ouro. É certo que o naipe de actores que escolheu, também ajudou, mas já havia ali uma matriz que o director soube desenvolver ao longo da sua carreira que perdura até hoje.
Pergunta: foi o melhor filme de 1977? Para mim decididamente não. Muitos houve que me encheram as medidas, desde logo Voando sobre um Ninho de Cucos, de Milos Forman, curiosamente vencedor dos prémios da Academia de melhor filme e melhor realizador, tendo Jack Nicholson arrecada a estatueta dourada para o melhor actor, escolhas que subscrevo na totalidade. Mas outros filmes se destacaram neste ano que para nós portugueses foi especial. Na ressaca do 25 de Abril de 1974 e do fim da censura prévia, depois da barrigada de exibições de filmes proibidos pelo anterior regime logo a seguir àquela data inesquecível, em 1975 já íamos ao cinema pelo gozo das fitas que estreavam, na certeza de que o filme não estava cortado e que o poderíamos apreciar na sua plenitude. Seria caso para dizer bons tempos. Mas não quero ir por aí.
Lembrava apenas alguns dos filmes de que gostei em 1975, independentemente da crítica ou dos prémios. Sem qualquer tipo de classificação ou preferência começava por Um Dia de Cão, de Sidney Lumet, com Al Pacino, dois homens do cinema que sempre admirei, o segundo poderia também ter levado o Óscar, assentava-lhe bem. Depois Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, um dos meus realizadores preferido, a par de Akira Kurosawa que nos presenteou com Derzu Uzala, ou Woody Allen com Love and Death, A Flauta Mágica, de Ingmar Bergman, e, num registo completamente diferente, Monty Pyton e o Cálice Sagrado, realizado por Terry Gillian e Terry Jones do colectivo. Mas não poderia deixar de lembrar esse gigante da interpretação que é Peter Sellers, numa das suas representações do enorma inspector Clouseau, em O Regresso da Pantera Cor-de-Rosa, de Blake Edwards, uma saga hilariante ao bom estilo britânico a que o actor dá um cunho inimitável, ou, por uma razão diferente, Yommy, de Ken Russel. O filme não é uma obra-prima, mas a ópera rock dos The Who, ou melhor, de Peter Townssend é. E ficamos por aqui, que a lista seria longa, porque distinta.
Quanto a Regresso ao Futuro, não jogando no campeonato dos Óscar, foi campeão de bilheteira. Segundo o Imdb, no fim de semana de estreia, nos Estados Unidos e Canadá, a receita foi mais de metade do investimento. Daí para a frente foi sempre a tomar. A ida do jovem Marty McFly a 1955 num mítico DeLorean e o regresso ao futuro depois de uma monumental facada na História, superou tudo o que era de esperar num filme de ficção científica soft. As interpretações de Michael J. Fox e Christopher Lloyd, bem como a música de Huey Lewis and The News também ajudaram. As parte II e III, apesar de uns furos abaixo da primeira entrega, mantiveram m nível de adesão enorme.
Mas então, o que se viu nos cinemas em 1985. Também agora uma olhadela aos Óscar e, de novo, vou pelo meu gosto e vou pelos que gostei mais. A Academia foi por Out of Africa, de Sydney Lumet, com Meryl Streep e Robert Redford, levando os prémios de melhor filme e melhor realizador. Mas de filmes prefiro A Honra dos Padrinhos, de John Huston, com Jack Nicholson, outra nomeação como melhor actor, ao lado de Kathleen Turner e Angelica Huston, mas lembro O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco, melhor actor para William Hurt, A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, uma crónica pungente sobre as mulheres no Sul dos Estados Unidos, os abusos e a intolerância de que são vítimas, Silverado, de Lawrence Kasdan, ou o renascer do western em grande, já para não falar de A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, com Mia Farrow e um fantástico e inesquecível quebrar da quarta parede, em que o personagem encarnado por Jeff Daniels, sai do écran e se junta à espectadora na plateia.
Filmes de outras cinematografias como O Pai Foi em Viagem de Negócios, de Emir Kusturica ou Shoah, de Claude Lanzemann, um documentário incontornável sobre o Holocausto, estão também entre os melhores de 1985. Outros anos virão.
Bons filmes e até à próxima!
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico