Digitei a questão à Inteligência Artificial (IA) “Quantos quilómetros têm, em média, as Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER)”? - Peço ao leitor que reflita rapidamente numa resposta. A sagaz satisfez-me com a resposta expectada “As VMER podem ter um número muito variável de quilómetros, mas é comum os 500.000 quilómetros (…) alguns veículos podem mesmo atingir os 700.000 quilómetros (…) estas viaturas circulam em condições precárias e com quilómetros elevados, o que pode comprometer a sua segurança e eficiência”.
Eureca! Encontro o propósito da IA: validar resposta às questões que a sociedade ignora, utilizando-a como fundamento.
Retornemos ao primórdio da assistência médica pré-hospitalar: a história inicia-se em 1989 com a entrega de 4 veículos ao CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) na zona Norte. Posteriormente, em 1991, duas viaturas são ativadas como VMER, primeiramente no Hospital de Cascais e em seguida no Hospital de São Francisco Xavier. O seu acionamento é feito através do CODU.
Factos debitados, questiono ao leitor: se nunca tivesse vendido a sua viatura, quantos quilómetros marcaria de 1991 até 2025?
No que diz respeito a Salvar uma Vida haverá semáforos vermelhos? Traços contínuos? Sinais de proibição? Bom, muitos acreditarão que as infrações são permitidas, contudo essa não é a verdade.
Os enfermeiros, condutores da VMER, possuem um curso de condução defensiva e, no seu exercício de condução, estão igualmente sujeitos ao Código da Estrada, sendo sancionados de igual forma aos demais. Não obstante, há um equilíbrio entre a segurança da equipa, dos Outros, e a máxima de funções: atuar na estreita janela temporal em que se pode melhorar o prognóstico da vítima. É esta premissa que justifica, correta e adequadamente, certos manobras na estrada, com posterior e consequente fundamentação ou sanção entre as entidades envolventes e competentes.
Então, ao que se reportam as tais “Condições de Segurança” que tanto primamos antes de atuar? Estarão meramente relacionadas com o cumprimento do Código da Estrada? Com a mecânica das viaturas?
Apelo ao exercício mental: Imagine-se numa estrada nacional, piso danificado, irregular e um conta-quilómetros a marcar 700.000, quão seguro se sentiria? Qual seria a velocidade aceitável, sabendo que do outro lado estará alguém em Paragem Cardiorrespiratória que precisa de Si? E se for um familiar seu? Como reagia se à sua chegada ao local lhe perguntassem “porque demoraram tanto”?
O veículo, muito mais que uma forma de transporte, é a operacionalidade, flexibilidade e eficiência do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).
E se uma VMER com 17 anos de utilização precisasse de manutenção e fosse substituída por uma VMER com 21 anos de utilização e mais de meio milhão de quilómetros? Quantos anos ou quilómetros serão necessários para justificar a aquisição de uma nova viatura?
(Expandamos comparativamente a questão: quantos anos ou quilómetros serão necessários para justificar a aquisição de um novo veículo para transportar altos cargos políticos?)
Numa rápida pesquisa, o ano de 2024 apresenta estatisticamente operacionalidade de VMER superior a 99%, o que me leva a questionar se serei falaciosa no estado das viaturas ou se os profissionais assumem um risco diário no cumprimento da Missão.
Se a solução é a aquisição, quem as adquire?
Apesar de criadas pelo INEM, as VMER atualmente estão sob a alçada das Unidades de Saúde que integram. Assim, são adquiridas pelas Unidades de Saúde que as operam, contudo, o INEM subsidia a compra e coordena a atividade de gestão e operação da frota, enquanto os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) asseguram a tramitação da aquisição. A tríade tem, portanto, de estar alinhada naquela que é a proteção de quem segue somando quilómetros de vidas salvas.
A viatura está operacional? Sim… está. Trava, vira à direita e à esquerda.