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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Amigos do bordado de Castelo Branco

Durante anos a fio foi um tesouro feminino a que poucos atribuíram real valor. Esgotada a dureza monótona das lidas da casa, chega o tempo mágico em que o regaço se alarga para melhor desdobrar a peça de linho e alinhar os novelos de fios de seda com preceitos de cor e bom gosto.

As primeiras horas da noite determinam a migração para um tempo sem tempo em que o olhar cansado ganha outro brilho ao confrontar-se com a paleta dos fios de seda. Alumia-se um amor muito paciente, cortejado por mãos hábeis no manejo de agulhas que volteiam com precisão, posicionando fios multicolores que percorrem uma e sucessivas rotas previamente cartografadas. Pontos e contrapontos cruzam-se em geometrias perfeitas, sinfonias de cor que se espraiam nas texturas grávidas de luz e cor.

É música celestial ouvir e ver um bordado crescer.

A sinfonia de pontos e cores organiza-se numa toada harmónica apenas acessível a quem ama e pratica a arte. Interpretada pelas vibrações intensas dos fios de luz no instante em que se libertam da sua paleta sedosa para mergulharem na pureza do linho, gera-se então um tumulto de sentimentos intensos que só os olhares e ouvidos bem treinados conseguem interpretar. São mensagens subliminares, informações que ressuscitam as recordações saudosas do casulo onde os fios cresceram e se fortificaram através do esforço quase hercúleo de um pequeno ser  - o bicho da seda - ansioso, ele também, por produzir muito fio fino e se libertar do casulo. Essa é a apoteose do seu breve ciclo de vida: ser crisálida primeiro e finalmente borboleta.

O artigo sobre o tema  “Amigos do Bordado de Castelo Branco” exigiu a tessitura de um “manto diáfano da fantasia” para melhor contextualizar a temática. Foi também imperativo não omitir  a “nudez crua da verdade” sobre a vida difícil das artífices, que produzem peças de altíssimo valor artístico e patrimonial.

Hoje o Bordado de Castelo Branco entrou numa fase consistente de desenvolvimento, graças a apoios e esforços continuados de entidades interessadas em preservar e dinamizar este  património. Ergueu-se um conjunto de núcleos criativos que remam contra ventos e marés, não apenas para manter um alto nível técnico e artístico, como também para garantir a continuidade geracional sem a qual esta arte estará condenada.

A iniciativa de promover a candidatura de Castelo Branco à rede de cidades criativas da UNESCO é um momento fulcral para alcandorar o bordado de Castelo Branco não só à posição de destaque que merece, como também à sua integração na “rede de cidades criativas da UNESCO”, posição que gera entropias decisivas para a continuidade do bordado.

O Ensino Magazine junta-se a esta iniciativa e sugere a criação de grupos de apoio à candidatura de Castelo Branco à rede de cidades criativas da UNESCO.

Carlos Correia
Professor Universitário