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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Os Censos e o ensino superior

Os números preliminares dos Censos 2021 demonstram uma queda acentuada na população residente em Portugal, sobretudo em territórios de baixa densidade, como o interior do país. Os dados parecem não ser surpresa, mas demonstram a incapacidade, por um lado, do poder central em implementar políticas efetivas para fixar e levar gente para esses territórios - cancelando mesmo obras estruturantes; por outro, a inabilidade em conseguir aproveitar os mecanismos que o pai Estado disponibiliza; e, finalmente, a falta de influência junto da população para uma luta que, nalguns casos, começa a atingir um ponto de não retorno.
Somos cada vez menos e a tão chamada coesão territorial, que por vezes não passa de um chavão e de um conjunto de notícias, tem na rede de ensino superior público um instrumento que pela sua dimensão e dispersão certamente evitou males maiores e poderá ser um trunfo para o que aí vem. É essa rede que mantém à tona muitos concelhos, cidades e vilas, quer pela sua capacidade geradora de conhecimento, de dinamização económica e de fixação de quadros, quer pela atractividade que conferem a esses territórios.
A população residente diminuiu, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, 2,2% em Bragança, 4,3% em Vila Real, 4,8% em Santarém, 5,4% em Évora, 5,6 na Guarda, 6,8% em Beja e Castelo Branco, 10,1% em Elvas, 10,3% na Covilhã e Portalegre, 12,6% em Abrantes e 14,2% em Idanha-a-Nova. Dou estes exemplos, como poderia dar outros. Mas nestas cidades e vilas há ensino universitário ou politécnico.
Sem esta rede de ensino superior, os números certamente seriam mais catastróficos. É esta rede que confere oportunidades de acesso ao ensino superior, que promove o fluxo de jovens (potenciando também a vinda de alunos estrangeiros), que fixa e atrai população, que fomenta o aparecimento de novas empresas, que mexe com a economia. E a coesão territorial também passa por aí, porque a grande maioria destas cidades e vilas tem uma excelente qualidade de vida e a custos reduzidos.
As instituições de ensino superior assumem um papel importante no desenvolvimento desses territórios, promovendo, ao mesmo tempo auto-estima e esperança nas populações.
Haverá sempre quem defenda que esta rede deve ser reduzida. Governos portugueses chegaram a tentar implementar essa tese, com argumentos económicos, de que era caro tê-la a funcionar e que havia ensino superior a mais. Ameaçaram reduzi-la. Mas haverá maior prejuízo para um país do que ter uma faixa significativa do seu território despovoada? Haverá maior perda para uma nação do que não qualificar as suas gentes? Ou, ainda, haverá maior erro do que, por falta de visão estratégica e em prol de interesses desconhecidos (ou não) limitar a capacidade de desenvolvimento de um país de uma forma igualitária?
O último ano e meio veio também demonstrar a capacidade desta rede de ensino superior na resposta à pandemia de Covid-19. A realização de testes; a produção de equipamentos de proteção individual; a disponibilização de residências; o conhecimento aplicado à realidade; a solidariedade; a cooperação com o Estado, com as autarquias, instituições de saúde e de solidariedade, muitas foram as formas das universidades e politécnicos se juntarem na frente de batalha a uma doença que parou o mundo. Sem essa rede, a capacidade do país em dar resposta à situação de emergência nacional, seria diminuída e afetada seriamente.
Não há varinhas mágicas para contrariar a demografia. Mas o ensino superior poderá dar um forte contributo em inverter a tendência que os Censos 2021 agora apresentam. O país terá que saber agarrar este desafio. Não é de retórica que estamos a falar. É do futuro de todos nós, pois tem havido conversa a mais e ações a menos… Dentro de 10 anos haverá nova contagem e que bom seria termos resultados mais animadores… Esta é uma tarefa de todos.

João Carrega
carrega@rvj.pt