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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Ensino digital: massificação e singularidade

As estratégias de inovação dos sistemas digitais de ensino aprendizagem evoluem em modo assimétrico: tanto podem gerar nos públicos a que se destinam situações de resistência, ativa ou passiva, como demonstrar soluções de qualidade confirmada.
As situações de desconforto constatado entre professores e estudantes são fruto, na maioria dos casos, de soluções improvisadas: foi o caso recente das soluções de ensino digital aplicadas em todos os graus de ensino no decurso dos confinamentos de 2020 e 2021: estudantes, professores e famílias demonstraram descontentamento face à pobreza das soluções encontradas.
É oportuno recordar que as estratégias de ensino digital não se limitam à “apagada e vil tristeza” das experiências verificadas. Enquanto em Portugal se mantém uma infindável discussão sobre vantagens e inconvenientes das soluções apoiadas nessa tipologia de sistemas, existem um pouco por todo o mundo casos de sucesso que merecem ser mencionados e estudados.
É o caso da plataforma Coursera criada na Universidade norte-americana de Stanford: no decurso dos seus 9 anos de existência publicou mais de 4.000 cursos multilingues, oriundos de 150 universidades internacionalmente prestigiadas, assim como um conjunto de cursos de formação profissional.
O sucesso da iniciativa é global e o custo de um diploma de licenciatura, ou mestrado, oscila entre os 9.000 e os 45.000 dólares, valor acessível, se comparado com os preços do ensino presencial em universidades americanas de prestígio. Existem cursos na área da formação profissional cujo preço oscila entre 9 e 99 dólares, com direito a emissão de certificado de habilitação.
Criada num dos clusters de inovação da universidade de Stanford, a plataforma Coursera evoluiu e os seus fundadores criaram uma empresa. Entretanto,a frequência cresceu exponencialmente no decurso da pandemia: Coursera registou um aumento de mais de 33 milhões de estudantes provenientes de todo o mundo e em 31 de março de 2021 a empresa foi admitida na bolsa de Wall Street com uma capitalização inicial avaliada em 5,9 mil milhões de dólares.
Num seminário de investigação sobre ensino digital, realizado em Miami em 2013, tive a oportunidade de conhecer a professora Daphne Koeller, fundadora do Coursera e atualmente uma das suas acionistas principais. Participei em ateliers conceptuais sobre a construção de cursos interativos, na qualidade de Pro Reitor da Universidade Nova de Lisboa para o E-learning. Houve oportunidade para abordar temas como a avaliação da qualidade científica e pedagógica dos cursos digitais; a organização dos conteúdos estruturados segundo os princípios da comunicação digital interativa; a aplicação do design instrucional para as estratégias de apresentação e progressão das unidades temáticas e as estratégias de realização periódica de exercícios com peer grading.
Foi fundamental penetrar no cerne dos métodos e processos do ensino digital, através das demonstrações da estruturação de bases de dados. Nelas se alojam conteúdos e atividades percorridas por algoritmos estruturados em redes neurais. Assim se reconhece o perfil de cada estudante, os percursos realizados sobre a massa da informação, a verificação e avaliação dos trabalhos efetuados, bem como as estratégias de auto ou hetero avaliação em regime de peer grade.
A massificação cede o lugar à singularidade sempre que as redes neurais de algoritmos não apenas esclarecem individualmente o estudante, como informam o professor dos seus progressos e dificuldades. A análise dos percursos individuais permite apoiar individualmente cada estudante que poderá, se assim o desejar, analisar com o professor propostas de solução para as dificuldades sentidas.
Uma nota final para assinalar que a organização dos cursos digitais - neste contexto apresentada de forma muito sucinta - é igualmente eficaz quando utilizada em cursos presenciais: disponível a qualquer hora do dia a massa de informação estruturada em bases digitais permite aos estudantes estudar em casa e preparar intervenções para os debates realizados em sala de aula porque se continua a considerar que é na escola, entre estudantes e professores, que as melhores interações de aprendizagem frutificam.

Carlos Correia
Professor Universitário