Fundada em 1989 e com uma forte intervenção juntos dos jovens, a Fundação da Juventude, tem em curso um conjunto significativo de atividades que abrangem áreas como a educação, empreendedorismo, formação profissional, cidadania ou inovação. Rui Oliveira, o seu presidente, explica ao Ensino Magazine, num tempo em que mundo enfrenta grandes desafios, como a missão “de promover e integrar os jovens na vida ativa e profissional, ao mesmo tempo que forma cidadãos socialmente conscientes” está a ser concretizada.
“A Fundação foi criada para dar resposta aos jovens no acesso ao mercado de trabalho, dando-lhes a qualificação para isso. E esse continua a ser o nosso grande desígnio, em três linhas bem definidas: junto dos muito jovens, de jovens em idade intermédia e jovens que já estão no ensino superior”, explica Rui Oliveira.
É dentro dessa lógica que a Fundação atua. “No primeiro caso desenvolvemos projetos como o Informat que está a decorrer no Alentejo, Centro e Algarve, para ativar 18 mil jovens, entre os 10 e os 16 anos, despertando-os para a programação e para o mundo digital, com sessões de literacia digital e mediática”, adianta o presidente da Fundação. “Na linha do ensino secundário, a Fundação tem duas escolas, uma no Porto e outra em Lisboa. Em Lisboa temos a parceria com o IEFP e é garantida a certificação profissional e a conclusão do ensino secundário. São espaços onde o ensino é muito personalizado, em que acompanhamos o ritmo dos jovens, alguns dos quais com percursos difíceis, apoiando-os, dando-lhes uma perspetiva de vida e um pensamento diferente”.
Estágios à medida
E se junto dos mais novos e para os estudantes do secundário o impacto da Fundação da Juventude é grande, no ensino superior a aposta não é menos impactante. “Estamos a implementar o PEJENE – Programa de Estágios para Universitários, o qual alinha empresas com estudantes que queiram fazer estágios profissionais, de um a três meses. As empresas oferecem a oferta, os horários podem ser ajustados e flexíveis e o tempo diário também. Por exemplo pode haver estágios com uma, duas ou três horas por dia, mas também de oito horas. A ideia é que os jovens tenham uma experiência na sua área de formação. É um programa que já tem 33 anos e que funciona ao longo do ano, havendo uma comparticipação para o transporte e alimentação”, sublinha.
O presidente da Fundação fala também da ciência. “É uma área muito forte da Fundação. Anualmente promovemos a mostra de ciência e empreendedorismo, ao estilo americano, com banquinhas onde os estudantes do secundário apresentam os seus projetos, e onde participam os 100 projetos de ciência apurados nas escolas. Os melhores vão às mostras europeias”.
Rui Oliveira fala com entusiasmo dos projetos que têm sido apresentados e dá dois exemplos que o marcaram. “O nível é muito elevado. A Carolina Coelho, que entrou este ano no ensino superior, já tem um artigo científico escrito em nome dela, na área da astronomia, onde explica que a energia negra é algo vetorial. Outro projeto interessante apresentado passa pela utilização de cabelo para retirar a tinta azul das calças de ganga”, diz. As inscrições para a edição de 2026 podem ser feitas até ao dia 5 de abril na página de internet da Fundação.
Na área da cultura, está a decorrer o Porto Cartoon e um programa de estágios (com bolsa) para jovens universitários na Fundação Gulbenkian (PE-Arte) e no Museu MAAT (PEMAAT), ambos em Lisboa, em que os estudantes irão ser os guias das exposições.
Rui Oliveira aborda ainda a questão social. “Procuramos despertar a atenção dos jovens para a intervenção social, através de projetos como os Jovens 2030. Temos a decorrer um outro sobre sustentabilidade – que estará em Évora, Vila Real, Pedrógão Grande e Fundão”.
Os desafios que os jovens enfrentam são muitos, assim como as dificuldades, tendo em conta o grau de ensino que frequentam. Rui Oliveira, que foi dirigente associativo na Universidade do Minho e presidente do Conselho nacional da Juventude, considera que no ensino superior, o alojamento, refeições e os custos inerentes à frequência de um curso são fatores a ter em conta. “Tudo o que afugente um jovem que quer estar e não pode estar no ensino superior por questões económicas deve fazer-nos pensar a todos enquanto sociedade. Estar no ensino superior deve ser uma questão legítima”, refere, para depois salientar a importância da “economia do conhecimento, que passa pela qualificação das pessoas”.
Da cristalização à IA
A cristalização do ensino secundário, mas sobretudo do ensino superior, é algo que também preocupa Rui Oliveira. “Há pouco debate e partilha. Os jovens querem ter momentos de aprendizagem diferentes e não ambientes muito expositivos. Isso requer uma preparação dos estudantes, pois a participação é uma coisa gradual. Os ensinos básico e secundário têm muito pouco disso, de fomentar os alunos a debater e a intervir. E isso tem influência no ensino superior”, considera, para depois dar o exemplo de muitos “estudantes universitários procurarem adquirir outras ferramentas noutros programas formativos”.
É neste contexto que surge a Inteligência Artificial. Um novo “layer no processo” que faz parte do mundo e “a que nos temos que adaptar”. Algo que é válido para professores e estudantes. “Como referiu o ministro da Educação, mais do que avaliar o estado de arte – que isso a inteligência artificial faz – é importante saber que competências os alunos adquiriram”, defende Rui Oliveira, para quem muitos jovens “hoje preferem procurar o mercado de trabalho após a licenciatura do que prosseguir estudos, optando por fazer o mestrado já a trabalhar. Facto que pode ser uma mais-valia”.