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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Isidro Morais Pereira, Major-general e comentador TVI/CNN Portugal Forças Armadas vão colapsar se não houver medidas para atrair efetivos

20-10-2023

O Major-general Isidro Morais Pereira defende que «é preciso pagar convenientemente a quem quer servir a pátria» e alerta que estamos a chegar a um ponto em que «há mais chefes do que índios.» Sobre a guerra na Ucrânia, o comentador televisivo admite que «uma vitória russa seria uma catástrofe para o mundo ocidental» e argumenta ainda que o reacender do conflito no Médio Oriente «serve os interesses» do país presidido por Putin.

Afirma que comentar é uma forma de fazer serviço público. Gostaria de lhe perguntar a que fontes é que recorre para fundamentar e robustecer a sua análise diária nas intervenções televisivas?

Considero que informar os portugueses com rigor é uma forma de serviço público. No fundo, estou a dar continuidade ao meu serviço ao país, no exército, prestado durante 44 anos. Uma pessoa mais informada e com diversas perspetivas da realidade é, necessariamente, uma pessoa mais capaz de tomar decisões. O leque de fontes a que recorro é muito abrangente, o que obriga a discernir informação que é de confiança e informação que não é, bem como fazer a triagem de todo o caudal informativo que me chega, por via direta ou indireta. Procuro consultar órgãos de comunicação social associados ao lado russo e outros conotados com o lado ucraniano. Também procuro não perder os principais jornais de referência norte-americanos e do continente europeu, e tenho uma especial atenção aos “mass media” alemães, visto que também domino a língua germânica. Vivi na Alemanha alguns anos, até fiz uma tese em alemão, e continuo a manter contactos privilegiados, junto dos muitos amigos que lá deixei. Para além disso, em Portugal, tenho grandes amigos, nomeadamente na comunicação social, que me ajudam, remetendo-me, todos os dias, abundante informação. Não podia deixar ainda de referenciar que existem cidadãos anónimos – que não conheço pessoalmente – que me contactam via email ou redes sociais com dicas e conselhos, alguns deles muito úteis. Em suma, o difícil é mesmo absorver tanta informação para me preparar para as intervenções diárias na televisão. Depois de feita a síntese de tudo o que recebo estou preparado para fazer a análise, seja na TVI ou na CNN Portugal, canais para os quais tenho contrato de exclusividade.

Adapta a sua análise a cada um dos canais?

Necessariamente. Na TVI há, por norma, o destaque a um vídeo ou a uma imagem, que é uma forma mais apetecível de chegar a um público mais generalista. Por seu turno, na CNN Portugal, disponho de mais tempo para a análise, e entra-se em maior profundidade na leitura política, geopolítica e geoestratégica. O que faço, faço com gosto, mas implica uma grande disponibilidade, não apenas de tempo.

Do ponto de vista estratégico e operacional o que é que a guerra na Ucrânia tem de diferente de outras, por exemplo, a dos Balcãs (que conheceu bem por ter estado no terreno) e a do Iraque?

O aparelho militar é o último rácio, quando não há outra forma de atingir a paz, a paz atinge-se através da guerra. A guerra dos Balcãs aconteceu no seguimento de uma revolução geopolítica a nível mundial.  A «cortina de ferro» caiu e emergiram alguns nacionalismos. A ex-Jugoslávia, reunificada por Tito, era um país que conseguia amalgamar tudo aquilo que era diferente: religiões, etnias, etc. Como é que se conseguiu colar um mosaico com tantas diferenças?  Quanto ao Iraque, quando o país estava na iminência de se transformar numa potência detentora de armas de destruição em massa, nomeadamente armas biológicas, químicas e até de enriquecimento de urânio, etc., George Bush filho, decidiu avançar quando o estado de Israel se confrontou com uma questão existencial. Os americanos lançaram-se neste combate de forma a eliminar esta ameaça latente para a nação judaica. Do meu ponto de vista, a diáspora judaica teve uma enorme influência nesta campanha lançada pelos norte-americanos que acabaria por tomar Bagdad.

E o que é que motivou Putin a iniciar esta invasão do território ucraniano?

Quando Vladimir Putin celebrou o Dia da Reunificação da Rússia disse tudo: se dúvidas havia quanto às intenções do presidente russo quando pôs em marcha este novo movimento expansionista de caráter imperial, elas foram dissipadas. Primeiro na Geórgia, depois com a anexação da Ossétia do Sul e, em 2014, com a anexação da Crimeia, o mundo ocidental reagiu de forma tépida. Enquanto isso, Putin foi conseguindo ir vendendo gás e petróleo ao mundo ocidental, amealhou uma quantidade importante de divisas e reorganizou o seu exército, sempre tendo em mente uma guerra de longa duração. Lançou-se nesta nova aventura que ele acha que é mais uma etapa para reunificar a Rússia. Em boa verdade, Putin sempre olhou para a Ucrânia como parte integrante da Rússia e não como um estado independente, que é. O que ele não estava a contar foi com a reação articulada e concertada do mundo ocidental.

Mas a «aventura» do presidente russo já leva quase dois anos de duração…
Os serviços secretos norte-americanos já haviam alertado, com a devida antecedência, que a Rússia iria invadir a Ucrânia. Todos os indícios apontavam nesse sentido. Aquando do início da guerra, os americanos propuseram a Zelensky governar o país a partir do exílio, ao que o presidente ucraniano respondeu de que o que ele precisava era de armas para defender o seu país, não de uma boleia. Esta e outras atitudes do presidente da Ucrânia acabaram por galvanizar a população. A forte réplica inicial acabou depois por ser reforçada pela ajuda ocidental, que se mobilizou rapidamente, e que tem sido decisiva. A Ucrânia, com financiamento e com armas do ocidente, tem sido capaz de resistir à invasão, como também logrou recuperar boa parte do território que perdera desde fevereiro de 2022.

A contraofensiva dos ucranianos está aquém das expetativas?

Não seria de esperar outra coisa. Sem superioridade aérea é muito difícil fazer diferente perante um exército organizado como é o russo. E este défice só deverá ser colmatado no início do próximo ano, com a chegada das primeiras aeronaves F-16.

Disse que se os F-16 tivessem vindo mais cedo esta guerra já teria visto luz ao fundo do túnel…

Sim, mas isso não quer dizer que acredite que Putin já tivesse retirado as suas tropas ou aceitado sentar-se à mesa de negociações. Mas se o ocidente tem fornecido, em devido tempo, mísseis de longo alcance (cruzeiro ou balístico) e aviação da quarta geração à Ucrânia, neste momento podíamos já estar a avistar um desenlace, o que agora ainda não acontece. Sem esta ajuda a Ucrânia já recuperou mais de metade do território que lhe foi conquistado, então imagine se a ajuda tivesse chegado…

Temos ouvido muitos pontos de vista que defendem que o conflito é decisivo para futuro, por exemplo, da Europa, tal qual a conhecemos. Apesar de ser uma guerra localizada, o facto de todo o mundo estar direta ou indiretamente envolvido, nomeadamente através de apoio militar aos oponentes, faz deste um conflito global, mesmo sem haver botas no terreno?

Uma vitória russa seria uma catástrofe para o mundo ocidental.  O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, disse uma frase que vou aqui repetir: «para nós, europeus, esta guerra também é uma ameaça existencial». Tem toda a razão. Nós europeus gostamos de viver nesta ordem moral e democrática, com regras, pós- segunda guerra mundial. Os nossos avós e outros nossos antepassados viveram privações e muito sofreram para vivermos como o fazemos hoje, aceitando as regras do direito internacional, sobrepondo-se à anarquia permanente. Hoje, já não queremos retroceder e deixar de viver num mundo livre e intolerante. No caso ucraniano, porventura o mundo nunca assistiu à transformação de um estado numa nação de uma forma tão rápida. E isso deve-se exatamente a Putin. Recentemente, o presidente Zelensky instituiu o Dia dos Defensores da Ucrânia, com uma grande solenidade em todo o país em sinal de reconhecimento e homenagem pelos que tombaram ao serviço da pátria. Só se é uma nação quando a partir do presente conseguimos vislumbrar um futuro comum e o povo ucraniano sabe aquilo que quer. Pretende aderir à NATO e à União Europeia, rejeitando o modelo autocrático e totalitário no qual viveu durante décadas.

Aproxima-se outro inverno, que naquelas paragens é duro e rigoroso. É previsível que o conflito fique imobilizado durante os próximos meses, prolongando-se no tempo?

O poder aéreo não é propriamente afetado pelas condições meteorológicas. Mas as operações terrestres já são muito condicionadas pelo mau tempo, nomeadamente o frio, a neve e a chuva. Quando as temperaturas ficam abaixo dos 20 graus centigrados negativos, nomeadamente no norte e centro da Ucrânia, podem, inclusive, provocar queimaduras nos combatentes. A chuva, antes do período do inverno rigoroso, pode gerar lamaçais de perder de vista que prejudicam a mobilidade dos carros de combate. Estes veículos acabam por só se poder movimentar em estradas pavimentadas, o que é um obstáculo. Por seu turno, no sul, os solos são mais arenosos, quando chove a água infiltra-se nos terrenos, o que não condiciona tanto o movimento das viaturas pesadas. Como tal, acredito que, como disse Zelensky, a contraofensiva ucraniana no inverno não vai parar. Em particular, no sul.

A Ucrânia e a Rússia são dois países muito fortes em termos de ciberguerra. Este conflito representa o que se chama de guerra híbrida?

A guerra híbrida foi o que a Rússia fez durante a anexação da Crimeia e traduz-se na utilização de todos os meios – inclusive ao nível da propaganda, utilização intensiva das redes sociais, infiltração de agentes, «compra» de pessoas do lado do inimigo, etc. – para a consecução de um objetivo. Nesta guerra tem-se recorrido, de forma frequente, às denominadas «operações de informação», que na Segunda Guerra Mundial se chamavam «ações de propaganda». Usa-se e abusa-se da mentira, das falsas verdades e do velho princípio veiculado por Goebbels: «uma mentira, mesmo que monstruosa, repetida milhares de vezes, é aceite como verdade». A Rússia tem usado muito esta estratégia e vai continuar a fazê-lo. A mais recente narrativa é desacreditar a capacidade da Ucrânia para conduzir uma contraofensiva. E há outra: que o ocidente, mais tarde ou mais cedo, vai desistir da causa ucraniana.

Acha que a previsível fadiga da guerra não vai fazer afrouxar o apoio do ocidente aos ucranianos?

Pode acontecer, mas essa narrativa tem sido alimentada pela Rússia que tem agentes infiltrados e pagos no mundo ocidental, em diversas áreas, seja na área militar, na comunicação social, etc. Contudo, acredito que os dirigentes políticos da Europa e do ocidente vão fazer prevalecer a lógica de que as democracias não podem ser derrotadas pelas autocracias e pelo obscurantismo. O regresso às trevas seria como reviver o período da Idade Média.

O xadrez geopolítico mundial tem conhecido inquietantes novidades: a aliança velada entre a Rússia e a China, a emergência dos BRICS ou o papel da obscura Coreia do Norte. Estes cenários causam-lhe inquietação?

Sem dúvida. Mas devemos ter cautela. Esta alegada cooperação sem limites entre russos e chineses não é bem assim. Isto é um casamento de conveniência. A China olha para a Rússia como uma oportunidade para adquirir matérias-primas e energia a preços módicos, mas ao mesmo tempo, Pequim quer escoar a sua produção industrial para os países que a consomem e que estão no ocidente. Cerca de 90 por cento da produção chinesa é consumida pelo mundo ocidental. Utilizando uma imagem, a China parece um touro no meio da ponte, que quer agradar a «gregos e a troianos». Mas de uma coisa podem estar certos: a China nunca fará o erro estratégico de cair completamente nos braços dos russos. Este país pretende chegar a 2049 e ser a maior economia do mundo. Mas só conseguirá isso se continuar a crescer. Os últimos dados, contudo, não foram famosos. Por isso, a China até vê com bons olhos um mundo bipolar, coexistindo numa espécie de condomínio, em que está completamente disposta e interessada em cooperar com o mundo ocidental.

E o que tem a dizer sobre os emergentes BRICS?

Relativamente aos BRICS entendo que são uma organização que se pretende apresentar ao mundo como uma alternativa à ordem liberal e democrática em que vivemos, com os seus representantes erguendo a voz para, de alguma forma, sublimarem os insucessos das suas economias, etc. E isto explica-se porque, no essencial, a adesão aos BRICS acaba por resolver alguns problemas que os países que entraram nesta organização têm. É muito melhor por as culpas no vizinho do lado do que explicar as suas próprias fragilidades.

Finalmente, que papel está reservado ao sinistro líder de Pyongyang?

A Coreia do Norte é um estado pária. A Rússia olha para os coreanos porque este tem sido um país que tem armazenado um arsenal de munições e armamento que interessam a Moscovo para utilizar no conflito. É mais um casamento de conveniência. Como moeda de troca, os coreanos do norte querem tecnologia avançada, nomeadamente submarinos nucleares, satélites e também suprir as necessidades da sua população que tem graves problemas de subsistência.

O eclodir, com uma violência raramente vista, do conflito no Médio Oriente, entre Israel e o Hamas, pode levar a que a guerra na Ucrânia, a juntar à fadiga da opinião pública e dos governos, fique, ainda mais, relegada para segundo plano?  A Rússia pode sair beneficiada?

O reacender deste conflito no Médio Oriente e nesta escala serve certamente os interesses da Rússia. A verdade é que potencialmente poderá desviar alguns recursos financeiros e militares da Ucrânia.  O “ocidente alargado” terá agora de se preocupar com duas situações que colocam diretamente em causa a ordem democrática e liberal em que vivemos. Outro aspeto relevante e que já se faz sentir é um inferior mediatismo dado ao conflito da Ucrânia. Porém e tendo como referência os resultados práticos da última reunião do Grupo Rammstein o apoio à causa ucraniana continua a verificar-se. Dos 100 mil milhões que o Presidente dos EUA pretende ver aprovados no Congresso e no Senado, 60 mil milhões destinam-se exclusivamente ao apoio continuado à Ucrânia. A verdade é que que de momento a guerra na Ucrânia parece ter saído das luzes da ribalta, contudo na prática o apoio continua. Finalmente, se o conflito Hamas/Israel se alastrar para além das atuais fronteiras e se regionalizar teremos certamente uma situação de escalada com a intervenção direta dos EUA e, por conseguinte, de alguns dos seus aliados tradicionais. O desfecho de tal conflito poderá provocar ondas de choque que poderão chegar mesmo ao extremo oriente.

Vamos mudar de assunto e falar sobre as Forças Armadas portuguesas. Após o fim do serviço militar obrigatório, em 2004, foi criado o Dia da Defesa Nacional, em que se convocam jovens que cumpriram 18 anos para uma jornada de dever militar e cidadania. É com iniciativas desta natureza que se motivam jovens do sexo masculino e feminino para as Forças Armadas?

É benéfico dar a conhecer as Forças Armadas através de palestras e pelo contacto com os militares, mas é manifestamente curto. Em 2004 tomou-se a decisão de abandonar o serviço militar obrigatório, seguindo-se o caminho da profissionalização. Na altura, não havia falta de voluntários. Porquê? O salário mínimo estava em cerca de 400 euros e os militares ganhavam mais de 300 euros acima desse valor. Existia, então, um conjunto de incentivos que tornavam atrativo seguir uma carreira militar.

As condições de atratividade deixaram de existir?

Aquilo que se paga é manifestamente insuficiente. E isto é uma pescadinha de rabo na boca. Quando menos militares temos, o regime de esforço a que os submetemos é cada vez mais violento. Uns vão para missões internacionais, como por exemplo para a República Centro Africana, regressam e em vez de irem de férias ficam de prevenção para vigiarem os incêndios ou os paióis. Assim, a manta é curta. O compromisso pós-troika, que se seguiu a reestruturação das Forças Armadas, era de ter nas fileiras 32 mil efetivos, em tempo de paz. Neste momento já estamos abaixo dos 27.741 que tínhamos em 2021. O exército já tem um défice de mais de 5 mil militares do que os que devia ter. Estamos a chegar a um ponto, e desculpe a expressão, em que há mais chefes do que índios. Ou seja, há mais graduados do que praças. Não pode ser. Ou se tomam medidas atrativas para recrutar efetivos ou isto é o caminho para o colapso das Forças Armadas. É preciso pagar convenientemente a quem quer servir a pátria. Há alguma razão para que um soldado do exército tenha um salário substancialmente inferior a um agente da PSP ou a um guarda da GNR? É preciso inverter esta realidade, até porque um exército de voluntários também apresenta vantagens, permitindo unidades melhor adestradas e preparadas para a eventualidade de um combate.

Já afirmou que o mundo pode tornar-se muito mais perigoso do que está agora e é conveniente que tratemos da nossa Defesa. O recurso a estrangeiros é uma solução para suprir a falta de efetivos?

Habituámo-nos a ter sempre de prevenção o «grande irmão» do outro lado do Atlântico, sempre pronto a acudir em nosso auxílio, sempre que algo corresse mal. Preferimos investir na área social, em atribuir subsídios e encher o aparelho do Estado com demasiados servidores. Resultado: descurou-se as Forças Armadas. É, pois, tempo para redimensionar o aparelho do Estado e olhar para todos os servidores do Estado, criando carreiras mais atrativas.

Insisto na questão: os estrangeiros não fazem parte da solução?

Não me parece que seja uma boa solução. Muitos deles nem sabem falar português. Nos Estados Unidos, os candidatos de El Salvador ou da Costa Rica também são admitidos nas fileiras do exército, mas com uma “nuance”: nenhum deles é aceite, sem passar largos meses numa escola de línguas no Texas. Mas o ponto essencial é o seguinte: para recrutarmos estrangeiros era necessário alterar a Constituição. O constitucionalista Jorge Miranda lembrou recentemente que está na Lei Fundamental que para servir as Forças Armadas é preciso ser cidadão português. Ponto final. E há outro aspeto a ressalvar: Portugal é, para muitos estrangeiros, apenas um país de passagem e que serve de trampolim para sonhos mais altos. Não somos suficientemente atrativos. Precisamos de fazer uma grande reforma do nosso país e acabar com este modelo de salários baixos. Os portugueses estão no limite. Não se consegue viver com estes  ordenados. A política recorrente de subsídios tem de ser substituída por um regime salarial mais elevado e competitivo. É isto que se passa nos países ditos normais.

Voltando ainda ao fim do serviço militar obrigatório. O distanciamento das entidades castrenses fez com que a nossa juventude tivesse perdido valores?

A chamada «Geração Z» é mais pragmática, mais consciente e olha para as situações como perspetivas de futuro. Se esta juventude deixou de ter vocação para servir o país, a responsabilidade não é dela. A culpa é dos líderes que não foram capazes de incutir na juventude os valores que deviam. A culpa é nossa. Falta uma atitude pedagógica perante as novas gerações. Não é justo um jovem vir de Trás-os-Montes ou de outro ponto distante do país para ganhar 700 euros no exército, quando pode auferir o mesmo na cidade do interior onde reside, numa caixa de hipermercado.

 

Cara da Notícia

44 anos a servir o país

Isidro Morais Pereira nasceu em Ribeira de Pena (Vila Real), tem 64 anos. Major-general, tem 44 anos de serviço efetivo no exército, acumulando uma carreira militar extensa e reconhecida através de diversas condecorações, distinções e louvores. Comandou o contingente português na Bósnia-Herzegovina, de janeiro a agosto de 2002, na qualidade de Comandante da Reserva Operacional Terrestre da SFOR/NATO. Especialista em assuntos de Defesa e Geopolítica, tem comentado a guerra na Ucrânia praticamente desde o seu início, primeiro no Porto Canal, depois na SIC e de há algum tempo a esta parte, em exclusivo, na TVI e na CNN-Portugal. Admitindo que é a «obsessão pelo conhecimento que o move», iniciou o ano passado um doutoramento em Relações Internacionais, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa, graduação que pretende juntar à licenciatura e a um mestrado em Ciências Militares, na especialidade de infantaria, feitos na Academia Militar.

Nuno Dias da Silva
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