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Manuel Pinto Coelho, médico Todas as doenças começam no intestino

20-06-2022

Especialista em antienvelhecimento, Manuel Pinto Coelho partilha dicas e conselhos para que se chegue novo a velho. O médico afirma que a Medicina atual tem o foco único na doença e não em como evitá-la e lamenta que a formação académica dos profissionais continue a desvalorizar o impacto das questões nutricionais na saúde.

Decidiu celebrar os 50 anos de prática clínica, lançando um livro com 50 conselhos. A pedra de toque do seu pensamento é que só um sistema imunitário forte pode prevenir doenças, evitando, desde modo, a própria ingestão de antibióticos…
Atenção: não ponho em causa os antibióticos. Aliás, nós já cá não andávamos se não fosse a sua ação. O problema associado ao antibiótico é que eles aniquilam o bom e o mau. Na microbiota – que, no fundo, é outro órgão que temos no nosso organismo – muitos dos microorganismos que existem dentro do nosso intestino acabam por desaparecer por ação dos antibióticos. É só esta consideração que quero deixar clara. Nada tenho contra os antibióticos, desde que não sejam tomados indefinidamente.

Depois deste esclarecimento prévio, apontemos as baterias sobre o sistema imunitário. Qual é a importância de tê-lo forte e resistente?
É meu entendimento, no caso da Covid-19, que existiu um enfoque unilateral exclusivo ao agente microbiano que nos invadiu, neste caso na figura de um vírus. Costumo dizer que não é preciso ser agricultor ou lavrador, para se perceber que a importância do terreno é superior aquilo que lá cai. Dito de outra forma, a semente não se compara, em termos de importância, ao “solo”. Se o “solo” não permitir, a semente não germina. Isto para dizer que dou grande importância ao que chamo de imunidade natural ou inespecífica. E estranho mesmo que não se dê espaço e atenção por parte de investigadores a este outro lado do problema, que é aquilo a que eu chamo o “solo”.

É por isso que argumenta que a gestão da pandemia não foi a mais correta?
Em março de 2020, no início da pandemia, fiz um vídeo em que defendi que as autoridades de saúde deviam ter distribuído, gratuitamente, Vitamina D por toda a nossa população. Provavelmente, os portugueses não ficariam tão expostos às consequências do vírus. Durante estes dois anos, estivemos excessivamente concentrados no micróbio invasor e descurámos como melhorar o nosso “solo”. Quero recordar que o professor Manuel Sobrinho Simões deu uma entrevista ao “Diário de Notícias”, de 2 janeiro de 2019, em que dizia que «muitos dos problemas de saúde podiam ser resolvidos pelos nossos governantes». Partilho por completo esta ideia. Aliás, se os nossos governantes lessem o livro “A arte da guerra”, de Sun Tzu, perceberiam que não se conhecendo o inimigo, dificilmente se consegue ganhar a guerra. O problema é que continuamos, desde o primeiro momento, fixados no inimigo, quando o foco deveria ter sido, desde o início, outro, o sistema imunitário. Este vírus tem ainda a particularidade de estar sempre a mudar de “roupa”, primeiro foi a Delta, depois foi a Ómicron…

66 por cento dos adultos em Portugal têm insuficiência da Vitamina D. Defende que se deve apanhar 20 minutos de sol por dia sem proteção, entre as 11 e as 15 horas. Quais são os reais benefícios para a saúde?
Há uma pandemia à escala global de Vitaminose D, eventualmente menor em África, devido à maior exposição solar dos habitantes destes territórios. Se tivermos níveis de Vitamina D – não é o único, mas é um marcador de importância extraordinária – no nosso organismo, e uma parede intestinal o menos permeável e inflamada possível, teremos 70 a 80 por cento de proteção do nosso sistema imunitário assegurado. De uma vez por todas, considero de importância vital olhar de outra forma para o sistema imunitário. Robert Malone, o inventor das vacinas RNA mensageiro, que deu origem às vacinas da Pfizer e da Moderna, defendeu que a imunidade natural é superior à imunidade induzida pelas vacinas. Veja que isto é dito pelo próprio homem que inventou estas vacinas. Acho, por isso, extraordinário como não se discute a imunidade natural do sistema imunitário.

Defende uma Medicina integrada, mais próxima da cultura oriental. O nosso sistema de saúde está muito focado na doença e pouco no doente?
O paradigma que existe na prática clínica é «uma maleita, um comprimido». É com essa perspetiva que os licenciados em Medicina saem da faculdade. Todos os estudantes sonham com o juramento de Hipócrates, mas parece que desconhecem que o principal ensinamento do “pai” da Medicina é «o alimento é o nosso principal remédio». Quem não conhece o alimento, tem mais dificuldade em tratar doenças. Todas as doenças começam no intestino. Da mesma forma que é extraordinário que não exista uma cadeira de nutrição nos programas académicos das faculdades de Medicina. Se fizessem caso do que dizia Hipócrates o mundo era diferente, e os ministérios da Saúde punham ao bolso milhões e milhões de euros.

Como explica esse distanciamento das questões relacionadas com a nutrição?
A Medicina atual tem o foco único na doença e não na saúde, quando devia apostar numa lógica preventiva. Atualmente, a Medicina está muito distanciada da importância gigante que as questões da nutrição têm na saúde das pessoas. Todas as semanas tenho nas minhas consultas pessoas com problemas desta natureza e que anteriormente já passaram por outros especialistas. «É da medicina nutricional que virão as soluções das doenças do amanhã». O autor desta frase foi Linus Pauling, Prémio Nobel da Paz e da Química.

Dos vários conselhos que dá no seu livro, um dos mais chamativos é o da ingestão de água do mar. Pode esclarecer-nos?
Começo a explicação com uma pergunta: a que sabe o seu suor e as suas lágrimas? A sal. A água do mar é um superalimento. A importância da sua alcalinidade é tremenda. Um dos segredos para conseguirmos chegar novos a velhos é que nos alcalinizemos o mais possível, pelo menos 70 por cento. A importância de termos organismos alcalinizados é fundamental para prevenir doenças como o cancro. Isto devia ser um tema central no debate sobre saúde pública.

Refere que temos «hábitos alimentares inadequados». O que defende para que esta mensagem passe de forma mais incisiva e eficaz?
Não tenho essa ambição, mas se me dessem um cargo de responsabilidade no Ministério da Saúde, pode ter a certeza que criava um grupo de trabalho que procurasse passar a mensagem à população para a necessidade de modificar certos hábitos, em ordem a minimizar as doenças e aumentar a esperança de vida. Costumo dizer que a epidemia da Covid-19 é tramada, mas a epidemia da ignorância mais tramada é. Numa sociedade informada como é a nossa, só é ignorante quem quer. Seria desejável também uma política de saúde mais equilibrada que reduzisse o índice glicémico dos alimentos que as pessoas estão habituadas a consumir. Seria um regime alimentar mais próximo do que era o dos homens do Paleolítico. Estou convicto que seria da maior importância acabar com alimentos processados, com glúten, açúcar e a caseína, que provocam a maior permeabilidade do intestino, inflamando-o.

A questão da educação para os bons hábitos deve começar, desde tenra idade, no ambiente escolar e familiar?
De pequenino é que se torce o pepino. Para as crianças, é fundamental fazer o seu crescimento o mais em contacto possível com a natureza e abandonar o computador da sala ou o ecrã do telemóvel. É preciso recuperar hábitos que havia no meu tempo e nessa altura havia muito menos doenças do que há hoje. Em 1974 havia 128 doenças incluídas no “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders” (DSM). Em 2014, o mesmo DSM registava 357. O dobro. Hoje aproveita-se para rotular qualquer coisa com o nome de uma doença ou desvio comportamental para avançar com a desculpa do comprimido. Exemplo? Síndrome de défice de atenção, toma lá “Ritalina”. Continua sem haver vontade de, antes de abordar a doença, estudar e investigar para melhorar a saúde.

A saúde mental não é a sua área de especialidade, mas de que forma os aspetos socioemocionais estão a impactar no equilíbrio dos seus próprios pacientes?
Os impactos são brutais. A primeira causa de morte em Portugal são as doenças cardiovasculares. Mas é o “stress” a principal causa para que estas doenças se manifestem. Por isso, insisto tanto que a meditação, o exercício físico e a leitura são formas para tentar saber lidar com o “stress” e a ansiedade em níveis excessivos. Ter um livro na mão é excecional e permite que nos abstraiamos do que nos rodeia. Muitos dos nossos problemas resultam da nossa ausência de pensamento e reflexão.

Devido à inflação e à subida dos preços, o poder de compra dos portugueses está a ser muito afetado. Teme que estas dificuldades se manifestem em termos de carências nutricionais por parte da população?
Essa pergunta é muito relevante. Numa sociedade da informação só é ignorante quem quer. O nosso equipamento genético é igualzinho ao dos nossos antepassados e quero recordar que na altura pouco ou nada se comia. Para começar, a hidratação é fundamental. Depois é preciso privilegiar os bons hidratos de carbono que representam os vegetais e os legumes em relação aos maus hidratos de carbono, especialmente, os que têm glúten, o pão e as massas. Ou seja, deve-se comer menos, mas o que se ingere deve ser o mais saudável possível, evitando que a parede do intestino seja agredida. Retirando da alimentação o glúten, a caseína e o açúcar. Estou em crer que esta pode ser uma oportunidade, - apesar de provocada por uma situação terrível, como é a de uma guerra, - para que as pessoas possam despertar e comer de forma mais inteligente e regrada. É um disparate fazer cinco refeições durante o dia.

 

Cara da Notícia

50 anos de experiência, 50 conselhos

 

Manuel Pinto Coelho nasceu em Lisboa a 26 de julho de 1948. É licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Tem uma pós-graduação em Medicina antienvelhecimento pela Universidade Autónoma de Barcelona. É membro do Great Distinction da WOSAAM – Word Society of Anti-Aging Medicine (desde 2016) e da A4M – American Academy of Anti-Aging Medicine (desde 2015). Fundou em 2015, a Clínica Doutor Pinto Coelho, galardoada com o prémio International Award in Excelence and Quality. É autor de vários “bestseller”, entre os quais «Chegar novo a velho», «+Vida,+Saúde,+Tempo» e «O segredo do sistema imunitário». «Seja um super humano», uma edição da Oficina do Livro, é o seu mais recente lançamento, onde para celebrar os 50 anos de carreira, apresenta 50 hábitos que promete «vão mudar a sua vida para sempre.»

Nuno Dias da Silva
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