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Joana Cruz, animadora de rádio, lutou contra o cancro da mama A resistente que acorda Portugal

25-10-2022

Quando milhões estão a acordar, Joana Cruz já está aos microfones da RFM a dar os bons dias aos portugueses. A animadora partilha, na primeira pessoa, todo o processo de combate ao cancro da mama que lhe diagnosticaram, no início do ano passado, desde a notícia, os tratamentos, a cirurgia e terminando na cura.

Em janeiro de 2021, na pior fase da pandemia, recebe a má noticia: sofre de um cancro da mama. Oito meses de tratamentos e uma cirurgia depois, a 19 de agosto, anunciou nas redes sociais «estar curada». Considera-se uma sobrevivente?
De alguma forma, sim. Todas as pessoas que superaram a doença podem ser assim chamadas. Mas, no fundo, vamos todos sobrevivendo às dificuldades da vida, sejam elas quais forem. Considero que mais adequado é ser chamada de resistente, mais até do que sobrevivente.

O cancro é, normalmente, uma doença ainda muito associada a uma sentença de morte. Cancro é uma palavra evitada e prefere usar-se «morreu de doença prolongada», em vez de «morreu de cancro». No livro “Escolhi viver” partilha a sua experiência, testemunhando o que passou na primeira pessoa. Foi a responsabilidade social como figura pública que a estimulou a escrever o livro?
Foi um “mix” de coisas. Mas essencialmente a intenção foi a de partilhar a minha experiência, permitindo que o que vivi ficasse registado assim desta forma tão eterna, para que esta página negra da minha história não ficasse esquecida. Mas o “feedback” que recebi nas redes sociais, nomeadamente as palavras de apoio que tive de muitas pessoas para enfrentar a doença, foi determinante para aceitar o convite que me foi feito pela editora. Ainda hoje continuo a ser contactada por muitas pessoas que me dizem que também foram diagnosticadas com a mesma doença. Se esta partilha ajudar a transmitir uma visão e uma esperança, bem como uma mudança de atitude perante a doença, essa será a maior recompensa que posso ter.

Há quase duas décadas participou numa campanha de luta contra este tipo de cancro…
Sim, a marca “Women’s secret” fazia todos os anos uma parceria com a associação Laço e na altura a mensagem que me calhou falava de rastreio e deixava o alerta que quanto mais cedo for detetado o cancro, melhor pode ser a taxa de sucesso do seu combate. Mal sabia eu que estava a antecipar algo que ia cumprir anos mais tarde.

A pandemia afastou muita gente de realizar exames regulares e de rastreio. Este livro é uma forma de «acordar» e alertar todos os que travarem conhecimento com a sua história?
Outubro é considerado o mês rosa, por ser de prevenção do cancro da mama, mas é preciso estarmos atentos ao nosso corpo todo o ano, de 1 de janeiro a 31 de dezembro. Não podemos adiar a nossa saúde, argumentando sempre com o “stress”, as pressas e as agendas preenchidas. As pessoas precisam de estar primeiro. Parar, cuidar delas e realizarem os seus exames com regularidade. E devem ter especial atenção se sentirem alguma alteração no seu corpo. Um diagnóstico tardio pode revelar-se fatal. É preciso saber onde está a calha, para seguir esse caminho, evitando um descarrilar por completo.
Já referiu anteriormente que recebeu muitas mensagens de solidariedade e apoio. Gostaria de destacar alguma ou algumas que a tenham tocado mais?
Os testemunhos que chegaram até mim foram mais ou menos na mesma linha: «Eu já passei pelo mesmo e estou cá», «lembrei-me logo da Joana quando recebi o meu diagnóstico e vou ter a sua força para enfrentar isto com “unhas e dentes”», foram apenas alguns exemplos da natureza das mensagens que recebi. De certa maneira, estas mostras de solidariedade também me acabaram por inspirar no meu combate e na minha luta diária. Nas respostas que dava dizia que não queria que as pessoas fossem como eu, mas que descobrissem, no seu interior, a sua força para superar esta adversidade.

A páginas tantas, diz que «este cancro não me tirou a vida, mas mudou um pouco a forma como vivo». Quais são as lições aprendidas da doença e de que modo alteraram as suas rotinas?
Devo confessar que este processo ter acontecido em plena pandemia até acabou por revelar-se favorável, visto que não sentia o chamado “fear of missing out” (FOMO), visto que as pessoas, no geral, estavam todas em isolamento. Pensei o seguinte: «estamos todos no mesmo barco» e não vou ser aqui deixada. Mas mesmo num contexto tão particular, como a pandemia, o processo de enfrentar a doença tem de ser uma viagem ao nosso interior e centralidade, com a pessoa a ter de perceber em que fase da vida é que está. E decidir o que é que é para dispensar, o que é para investir. No fundo, estes meses acabam por ser um longo período de reflexão que nos é proposto. Um caminho muito pessoal que cada um tem de fazer.

Enveredou por técnicas de meditação e continuou a maquilhar-se diariamente para se sentir melhor. Quis com estas práticas tornar mais leve e «normal» um momento de tão grande provação?
Gostaria de sublinhar que nestes casos, não há certo, nem errado. Há pessoas doentes que preferem usar peruca, outras lenços e outras assumem mesma a careca, após a queda do cabelo fruto dos tratamentos. Em casos mais extremos, fecham-se em casa. A reação deve ser dada em função da forma de como a pessoa se sentir melhor. As pessoas nesta condição devem decidir o que é que para elas faz sentido.

No que à recuperação diz respeito, defende que 50 por cento é por conta do paciente e o restante fica a cargo da medicina. De que forma a saúde mental e a reação à adversidade podem ajudar a superar a doença?
Ter um cancro já é um fardo tão pesado, que se formos adicionar pressão na nossa cabeça e nos nossos pensamentos à situação, não vai ajudar. Muito pelo contrário. Tentar ficar o mais tranquilo que for possível e, no fundo, aceitar o que está a acontecer é a melhor receita para seguir em frente. Nunca pensei ou repeti a frase: «porque é que isto me aconteceu?». Aceitei e segui em frente. Penso que, com isto, retirei uma grande pressão sobre mim.
Gostaria de abordar agora questões mais diretamente relacionadas com a sua profissão. A rádio surge, na sua vida, quando envia um currículo, frequentava o terceiro ano da faculdade, para o Grupo Renascença, quando se anunciava a criação de uma rádio jovem, que se chamaria Mega FM. E foi uma das escolhidas…
Foi algo casual, apesar de saber que estava numa licenciatura que tinha como saída a imprensa escrita, a televisão e a rádio. Estávamos em 1998 e o processo de seleção ainda demorou uns seis meses. Não sabia bem que projeto era esse da Mega FM. Apenas fora desvendado que seria a rádio mais jovem da Renascença. Fui selecionada e comecei a trabalhar na rádio, ainda o curso ia a meio. Quando concluí a licenciatura já estava empregada e com o meu percurso profissional encarrilado desde os 19 anos.

Quatro anos depois ingressou na RFM, onde ainda hoje se mantém, sendo uma das principais animadoras. Apresenta o “Café da Manhã”, na companhia dos seus «colegas e amigos», Rodrigo Gomes e Daniel Fontoura. Para o programa funcionar é preciso existir química entre os animadores ou a competência profissional consegue superar essa eventual lacuna?
É possível apenas com competência profissional fazer um programa de rádio, porém, é muito mais penoso para os intervenientes, e em que se vive um dia a dia de mentira. Acredito que quando os relacionamentos são fortes e naturais isso também acaba por transparecer para quem nos ouve, para além de o trabalho ficar muito mais leve. Ainda para mais quando acordamos tão cedo e com algum sono, mas saber que vamos fazer o que gostamos e na companhia de amigos torna tudo muito mais fácil.

A avaliar pelas suas palavras, está na sua cadeira de sonho. Como costuma dizer-se, «faz o que gosta no seu trabalho e ainda lhe pagam…»
Essa frase mítica aplica-se na perfeição. Mas se me pagam, eu também não vou dizer que não…

O pior é mesmo acordar a meio da madrugada…
Fazer rádio de manhã é sempre exigente, mas a disciplina de sono é a base fundamental para que a coisa corra bem. Hoje em dia, tenho o meu telefone no modo «deitar» às 10 da noite. Quando surgem convites para jantar, pergunto logo se não é possível começar a comer às 7 da tarde. Mas não é por isto que me considero um ser especial. Há tantos e tantos portugueses a acordar de madrugada e a pegarem ao seu serviço bem cedo.

Para além da rádio, o Sporting é outra das suas paixões e já apresentou, inclusive, o programa «ADN Sporting» no canal de televisão do clube. Conseguiu, de alguma forma, celebrar o título de campeão nacional, em 2021, após um longo jejum?
Foi uma grande alegria. Gostaria de ter ido para o Marquês celebrar, mas estava em tratamentos e também havia a pandemia. Por isso, como não podia, celebrei de forma resguardada em casa. A festa fez-se na mesma.

Este ano o Sporting não está a começar bem a temporada…
É verdade, e ainda não chegámos ao Natal. Mas é preciso pensar jogo a jogo. E os sportinguistas são os eternos sofredores e o verde é a cor da esperança, por isso…

 

Cara da Notícia

A paixão da rádio

Joana Cruz nasceu a 20 de agosto de 1978, em Lisboa. Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Católica, é uma das vozes mais populares da RFM, a rádio do Grupo Renascença, uma das que acumula maior audiência no país. Atualmente, apresenta o programa “Café da Manhã”, entre as 6 e as 10 horas. O seu percurso no grupo da emissora católica portuguesa começou, em 1998, na Mega Hits. Na televisão, participou no “Êxtase”, na SIC e no “Caia quem caia”, na TVI. “Escolhi viver”, com a chancela da Oficina do Livro, é a sua primeira experiência na escrita, em que partilha todo o processo de combate ao cancro da mama, que lhe foi diagnosticado em janeiro do ano passado.

Nuno Dias da Silva
Direitos Reservados
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