Enquanto docente do Ensino Superior, vai para mais de quarenta anos, assumi como missão encontrar, dentro das paredes da escola, o maior grau de felicidade, sobretudo quando percebia que também estava a contribuir para a felicidade dos meus educandos.
Aprendi, igualmente, que ser feliz também dá muito trabalho. Na escola somos felizes quando tomamos a consciência de que somos construtores de futuros, que fazemos parte do amanhã que isso está ao nosso alcance e nas nossas mãos. O que nos obriga à permanente manutenção de um clima de empatia com o próximo e de reciprocidade com toda a abrangente comunidade escolar.
Para se obter a felicidade na escola revela-se necessário que no triângulo de configuração família, docentes e aprendentes, a harmonia perdure, enquanto alimento capital da construção da personalidade, da utilização dos saberes e do reconhecimento de que a aprendizagem é um ato que todos têm de partilhar, dado que a felicidade se baseia, essencialmente, na mútua confiança e no reconhecimento do contributo de cada um para a busca do equilíbrio (balance) institucional.
Convenhamos, então, que ninguém nasce professor e, quem o quiser ser, é bom que saiba da gratificante e complexa tarefa que o aguarda no virar de cada esquina do seu percurso profissional.
O trabalho do professor é socialmente incontornável. Não depende apenas das políticas e dos políticos. É uma exigência social, reconhecida e validada, que se envolve com a construção do futuro e com o bem-estar e a felicidade da novas (e também das mais velhas) gerações.
Ser professor é a mais nobre dádiva à humanidade e o maior contributo para o progresso dos povos e das nações. E a consciência dessa condição transmite-nos sentimentos de gratificante autoestima e de plena e tranquila felicidade.
E, como ninguém nasce professor, é necessário aprender-se a ser. Leva muitos anos de estudo, trabalho, sacrifício e muito altruísmo. E a felicidade não se alcança sem cedência, respeito pela diferença, algum sacrifício e dádiva altruísta.
O professor é, pois, um intelectual, mas também é um artesão; é um teórico, mas que tem de viver na e com a prática; é um sábio, mas que tem de aprender todos os dias; é um cientista que tem de traduzir a sua experimentação para mil linguagens; é um aprendente que ensina; é um fazedor dos seres e dos saberes; mas é também um homem, ou uma mulher, como todos nós, frágil, expectante e sujeito às mais vulgares vulnerabilidades.
Ser professor obriga a não ter geração. Professor tem de saber lidar com todas elas, as que o acompanham durante décadas de carreira. É pai, mãe e espírito santo. E, para o Estado, ainda é um funcionário que, zelosamente, se obriga a cumprir todas as regras da coisa pública.
O professor contenta-se com pouco: alimenta a sua autoestima com o sucesso dos outros (os que ensina), e tanto basta para que isso se revele como a fórmula mágica que traduz a medida certa da sua satisfação pessoal e profissional. Por isso é dedicado e, face ao poder, muitas vezes ingénuo e péssimo negociador.
Os professores são uma classe única e insubstituível. A sociedade já não sabe, nem pode, viver sem eles. O Estado democrático soçobraria sem eles e sem a escola.
Todavia, sabemos que, infelizmente, os docentes não podem solucionar a totalidade dos problemas com que se confrontam as sociedades contemporâneas, sobretudo se não tiverem os contributos substanciais dos outros agentes educativos e das forças significativas da sociedade que envolvem a comunidade escolar.
Por tudo isso, a escola é um bem não negociável. Não pode ser objeto de argumentos de fação, de olhares recriminatórios e de invetivas de autoritarismo dos diferentes poderes. Não, não pode, porque o que se faz à escola tem um efeito multiplicador e de imprevisível bumerangue.
O desrespeito desleal pela escola marca e vítima os seus detratores. A cicatriz social que daí resulta leva tempo a sarar.
In: Ruivo, J. (Coord.) (2025). Ideias Simples para uma Escola Feliz. RVJ, Editores