«Ideias simples para uma escola feliz» (Ed. RVJ) é o título do livro que reúne os contributos de 21 autores, onde se incluem alguns dos principais investigadores nacionais e internacionais do setor educativo, com a particularidade de contar com o derradeiro artigo de Manuel Sérgio antes do seu falecimento. A apresentação nacional do livro coordenado por João Ruivo, e que teve o apoio do Município de Idanha-a-Nova, aconteceu ao final da tarde do passado dia 11 de setembro, no auditório 2 do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IU-UL).
As primeiras palavras pertenceram ao editor, João Carrega. «Este livro reúne a nata de investigadores deste setor e acredito que será a primeira de outras edições», disse o responsável da RVJ. «Queremos escolas felizes e mais pessoas a entrarem no ensino superior», foi o desejo partilhado por João Carrega.
A apresentação do livro pertenceu a um nome maior da investigação nesta área. António Sampaio da Nóvoa destacou o alcance das «histórias, das ideias, das reflexões e dos apontamentos de uma geração marcante de investigadores.»
O professor catedrático e reitor honorário da UL estruturou a sua intervenção na «importância da relação pedagógica no processo educativo entre professores/mestres e discípulos», para além de ter enfatizado o papel que a escola pode desempenhar enquanto «espaço de construção comum e de convivialidade, como forma de combater a fragmentação do mundo.»
Recém-regressado de uma cimeira mundial de professores no Chile, Sampaio da Nóvoa revelou aos presentes que propôs à UNESCO que a relação professor/aluno fosse considerada património da humanidade, solicitação que foi aprovada. O desafiante contexto a isso obriga, agora mais do que nunca: «Os professores estão debaixo de ataque, para além da ameaça que existe da sua substituição por máquinas ou pela Inteligência Artificial».
Mas os obstáculos não se ficam por aqui e também residem na dificuldade pedagógica de compatibilizar «a escola fora da sala de aula e a escola dentro da sala de aula». Para este que é um dos maiores pensadores vivos na área da educação, «a escola de hoje precisa de ser lançada para o futuro. São precisas ideias simples para ter uma escola eficaz.»
Em representação dos autores participou David Rodrigues. O professor de educação especial, doutorado pela Universidade Técnica de Lisboa, defendeu que «simplicidade e a felicidade não são temas e palavras frequentes no âmbito da investigação em educação.» David Rodrigues acrescentou que «a relação é central em todo o processo educativo» e que «sem afetos e emoção a estrutura não sobreviverá». Em jeito de conclusão, gracejou que na capa do livro «devia estar antes uma vassoura a varrer o pó do que uma lâmpada».
As derradeiras palavras pertenceram a João Ruivo, a quem coube o papel de «formular os convites para os contributos presentes no livro e organizar os testemunhos recebidos, tendo referido que o critério escolhido baseou-se em «professores a terminar a carreira ou docentes já reformados.» «A geração dos três terços», como lhes chamou: viveram o período de um país desigual e pobre, avançaram para a construção de uma escola pública e democrática e, mais recentemente, assistem, já no final das suas carreiras ou mesmo retirados, o que denominou a frase da passagem da aldeia global para a «megalópolis imprevisível», em que emergem problemas bélicos, climáticos e de migrações que «procuram contaminar e denegrir a escola publica.»
O investigador e antigo vice-presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco, salientou que principal objetivo desta obra visou a transmissão de uma mensagem aos futuros professores. João Ruivo apontou ainda que o conceito de escola, tal como a conhecemos, vai mudar. A começar pela redefinição do que é uma sala de aula, a revisão (muito rápida) da formação de professores e, finalmente, a reestruturação dos planos de estudos. «Este último ponto é fundamental, até porque considero que estamos a formar para profissões que não sabemos se vão existir daqui a 10 ou 15 anos», sustentou.