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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Livros & Leituras

22-01-2024

Alguém Falou Sobre Nós (Bertrand), de Irene Vallejo, filóloga e autora do imprescindível “ O infinito num junco” (na mesma editora), em crónicas publicadas em jornal, reúne um breviário de pensamentos colhidos da sabedoria da Antiguidade Clássica, que muito ajudam a compreender as perplexidades humanas que ainda afligem o mundo de hoje.

Trabalhar Cansa (Penguin Clássicos), de Cesare Pavese (1908-1950), escritor e tradutor, e um dos nomes maiores das letras italianas do século, viu publicada esta recolha de poemas, censurada, quando estava no exílio interno a que fora condenado pelo governo fascista. Esta edição contém toda a obra e um apêndice em que o autor explica o alcance da sua poética.

Falhar Melhor (Húmus), de James Knowlson, ou “A vida de Samuel Beckett”, publicado em parceria com o Teatro Nacional São João, é uma biografia do Prémio Nobel de 1969, e autor do célebre “À espera de Godot”, mas cuja obra não se esgota nessa peça, antes pelo contrário, e que deu autorização pessoal ao biógrafo, para compor esta obra monumental sobre o escritor irlandês.

História das Religiões (Manuscrito), direcção de João Gouveia Monteiro, com subtítulo “Da origem dos deuses às religiões do futuro”, reúne estudiosos das universidades de Coimbra, Lisboa e Tenerife sobre religiões étnicas, politeísmos antigos, zoroastrismo, antigo Egipto, Grécia e Roma, Celtas e Nórdicos, e modelos religiosos do futuro, encerrando com um capítulo seminal sobre o Taoísmo.

O Livro dos Mortos (Marcador), “do antigo Egipto”, a partir da tradução inglesa de E.A. Willis Budge do célebre papiro Ani de cerca 1275 a.C. e pertença do Museu Britânico desde 1888, é na verdade um texto que pode ser dito de “saída para a luz”, pois encerra os ensinamentos que o morto necessita no além para aceder à luz libertadora, unindo-se a Osíris e Rá. Esta edição é ilustrada com as gravuras originais do papiro, e introdução de John Baldock.

Rebeldes Magníficos (Temas e Debates), de Andrea Wulf, alemã nascida na Índia em 1967, e autora de “A Invenção da Natureza” (na mesma editora), escreveu este excelente livro, com o subtítulo “Os Primeiros Românticos e a Invenção do Eu”, sobre o célebre Círculo de Jena que, nos finais do século XVIII, se reuniu naquela cidade universitária, com Goethe, Schiller, Schelling, Fitche, os Schlegel, Caroline Bohmer, os Humboldt, Novalis e outros de poetas e pensadores, dando origem a um movimento que mudou a percepção do mundo e o modo como nos pensamos como indivíduos, libertos e capazes de imaginação, autoconsciência e livre-arbítrio, na unidade da humanidade e da natureza.

Diário de uma invasão (Ideias de Ler), de Andrei Kurkov, relato na primeira pessoa do escritor ucraniano, de dezasseis meses de guerra, numa prosa límpida e circunspecta que nos dá o retrato de um país sujeito a uma guerra atroz, num registo ao mesmo perspicaz e humano não desprovido de humor, contando histórias e circunstâncias pessoais e de inúmeros compatriotas. Em complemento, leia-se “A Mais Breve História da Ucrânia” (D. Quixote), de José Milhazes e Vladimir Dolin.

Libertação (D. Quixote), de Sándor Márai (1900 – 1989), escritor húngaro,  que viveu exilado. Este livro, publicado apenas em 2000, relata a história de uma jovem mulher na altura da chegada das tropas russas, ditas libertadoras, a Budapeste, filha de um eminente cientista. Ela tenta sobreviver, mas o encontro com a nova realidade é brutal. Um livro trágico e pungente onde a mestria de Márai sobressai de forma sóbria e contida.

Dersu Uzala (Tinta-da-china), de Vladimir Arseniev, é a história de um homem livre do extremo norte asiático, levado à tela por Kurosawa, e resulta da expedição que o autor realizou em 1904, numa elegia sobre povos desaparecidos pelo avanço da chamada civilização. Um livro empolgante e nostálgico que recorda como a vida podia ser vivida em comunhão com a natureza.

Memória Vermelha (Bertrand), de Tania Branigan, jornalista, com o subtítulo “Viver, lembrar e esquecer a Revolução Cultural chinesa”, relata a década terrível, durante a qual dois milhões foram mortos, a economia destruída e um incontável prejuízo cultural, à mão de hordas de jovens incitados por Mao, numa catástrofe que ainda hoje é lembrada a custo, e que permanece como uma chaga viva no tecido social do país, num relato em que sobreviventes e protagonistas tentam acertar contas com a memória dos crimes cometidos e sofridos.

Mao – A história desconhecida (Quetzal), de Jung Chang (n.1952), em reedição, é o resultado de dez anos de pesquisa sobre o “grande timoneiro”, causador de 70 milhões de mortes durante o seu consulado, atravessado por desastres e purgas, num longo repositório de uma vida que se quis mito e que a autora desmonta sem apelo nem agravo, com revelações surpreendentes sobre uma das figuras mais infames do século XX.

Poesia de Mário Cesariny – antologia (Assírio & Alvim), com edição de Fernando Cabral Martins, celebra o centenário do nascimento do autor de “O Virgem Negra”, poeta surrealista num “navio de espelhos”, complementada pela antologia “Poetas do Amor, da Revolta e da Náusea” (na mesma editora), projectada para o palco ou o cinema, e que “desenha uma imagem da literatura portuguesa numa perspectiva surrealista, desde o século XII até ao século XX”.

As Jóias de Castafiore (ASA), de Hergé, na versão publicada na revista “Tintin”, e que esteve adormecida nos arquivos desde há 60 anos, edição definitiva desta hilariante narrativa, cómica e fulgurante, uma história em que Hergé “subverte os códigos que ele próprio estabelecera”, num trabalho surpreendente e cativante como uma ida à ópera.

José Guardado Moreira
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