Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Livros & Leituras

16-02-2024

Poesias Completas (Assírio & Alvim), de S. João da Cruz (1542- 1591), em reedição, com tradução, prólogo e notas de José Bento, é dos maiores feitos da poética espanhola, uma obra ímpar que une a inspiração espiritual ao verbo terreno, numa iluminação que perdura pelos séculos. “Penetrei onde não soube/e fiquei não o sabendo,/toda a ciência transcendendo”.

O Avesso da Tapeçaria (Tinta-da-china), de Alberto Manguel (n. 1948, Buenos Aires) é uma saborosa e erudita digressão sobre a arte da tradução de um leitor universal, que segue Borges, quando este sugere que “uma tradução devia ser considerada um rascunho do original, escrito noutra língua”, que se lê como um antídoto contra o efeito Babel.

Anna Karénina (Porto Editora), de Lev Tolstói, com tradução de José Saramago, um grande clássico da literatura universal, retratando as convenções da sociedade russa do século XIX, e ao amores infelizes da heroína, num dos finais mais trágicos do romance oitocentista.

A Metamorfose (Livros do Brasil), de Franz Kafka, “conforme a edição crítica” da novela publicada em 1915, icónica e central na obra do autor, “parábola sobre a alienação” e os aparentes absurdos da existência humana. “Penso que devíamos ler apenas os livros que nos mordem e nos picam”, escreveu Kafka numa carta a um amigo.

História da Nação Portuguesa (Planeta), de Yves Léonard, historiador francês, especialista em História do nosso país, faz neste livro uma síntese actualizada da História nacional, desde os míticos Lusitanos aos dias de hoje, percorrendo os episódios que constituem os factos em que se teceu uma identidade nacional e um idioma, com novecentos anos, em fronteiras que se expandiram pelo mundo em navegações e descobertas.

Nanban-Jin (Gradiva), de Luís Filipe Thomaz (n. 1942), com o subtítulo de “Os Portugueses no Japão”, aborda a política dos caminhos na descoberta do Extremo Oriente e o papel dos portugueses na abertura do Japão ao mundo, sendo um verdadeiro encontro de culturas até então desconhecidas uma da outra, num livro que é também uma descoberta e uma lição de história contra as teses revisionistas que empestam por aí.

Istambul (Crítica), de Bettany Hughes (n. 1967, Londres), com o subtítulo “A história de três cidades”, ou seja, as três encarnações da mesma urbe, Bizâncio, Constantinopla e Istambul, lugar de ligação entre a Europa e a Ásia, acompanha oito mil anos de história da capital de impérios, que acolheu povos e culturas diversas, fazendo dela um palimpsesto de várias camadas, num livro que é um guia para uma viagem esplêndida. 

O Fim do Mundo Clássico (Relógio d´Água), de Peter Brown, com o subtítulo “De Marco Aurélio a Maomé” descreve como o mundo mudou entre os anos de 150 a 750 d.C. na bacia do Mediterrâneo, desde a queda do impérios romanos e persa, dando origem às fundações da Europa, que teve em Bizâncio o seu esteio distante, manancial de cultura e civilização que perdura até hoje. Um estudo ilustrado e que muito contribui para a História de um período charneira e pouco conhecido, ou apreciado.

História da Índia (Book Builders), de John Keay (n. 1941), viajante e historiador, é uma obra monumental que congrega nestas páginas, revistas em 2022, cinco mil anos de História do subcontinente indiano, com as suas diversas regiões, épocas, impérios, culturas e cultos, numa imensa tapeçaria que o autor nos apresenta, desde a mítica Harapa aos dias de hoje.

A Livraria dos Gatos Pretos (Clube do Autor), de Piergiorgio Putixi, escritor da Sardenha, ilha onde decorre este policial à maneira antiga, com um caso que vai dar trabalho ao livreiro e a dois gatos vadios, que inspiram o nome da livraria, local de reunião de pequeno grupo informal de discussão de policiais, que dará um contributo à polícia no caso do assassino que está onde menos se espera, tudo num registo de homenagem aos grandes clássicos do género.

Noite Feliz (ASA), de Sophie Hannah, é um mistério de Hercule Poirot, nesta nova encarnação, pela mão da autora inglesa a quem os herdeiros de Agatha Christie atribuíram o encargo de dar nova vida ao célebre detective que, na companhia do amigo polícia, vai desvendar as estranhas mortes ocorridas nas vésperas do Natal de 1931, numa remota localidade de Norfolk. Dedução e experiência a rodos nesta história bem cozinhada.

A lanterna das memórias perdidas (Porto Editora), de Sanaka Hiiragi (n.1954), em que um psicopompo fotógrafo prepara o morto através da escolha de uma fotografia significativa que depois é inserida numa lanterna mágica. As três partes remetem para histórias pessoais do Japão actual e para certa mitologia e crenças locais, num registo encantado e inspirador, sobre a passagem para a morte, ou fim do ciclo de uma vida.

Geração Z (Casa das Letras), de Ian Garner, com o subtítulo de “Entre a juventude fascista da Rússia”, do historiador britânico, que entrevistou muita gente, é a denúncia do estado de coisas do regime putinista, que congeminou um modo de coagir os jovens russos numa mescla de fascismo nacionalista e religioso, cujo mote tóxico é “guerra é paz”, ecoando Orwell.

Terra Sangrenta (D.Quixote), de Timothy Snyder é, nas palavras de Anthony Beevor, “o mais importante livro de História dos últimos anos”, no qual o autor se debruça sobre os anos entre 1933 e 1945, e os regimes de Hitler e Estaline, durante os quais 14 milhões de pessoas foram assassinadas, numa gigantesca orgia de violência e morte, nos territórios que incluem a Alemanha, URSS, Polónia, Países Bálticos, Bielorrússia, e Ucrânia. Fruto de uma pesquisa exaustiva em arquivos e testemunhos recolhidos, é-nos apresentado um panorama de horror sem precedentes.

José Guardado Moreira
Voltar