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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Livros & Leituras

12-12-2023

Os Sonetos a Orfeu (Assírio & Alvim), de Rainer Maria Rilke (1875 – 1926), seguidos de “Poemas à Noite”, com tradução e prefácios de Maria Teresa Dias Furtado, publicado há um século, são o culminar de uma obra ímpar da poética alemã do século XX, juntamente com “As Elegias de Duíno”, fruto de um labor e um espanto, com ecos de Holderlin e Novalis: “Tudo o que visível descansa sobre um fundo invisível”.

Arte de Amar (Quetzal), de Ovídio, exilado por Augusto para terras vizinhas do Mar Negro, é um dos pilares fundadores da tradição poética ocidental, a par de Virgílio e Horácio, celebrando o amor em todas as suas vertentes. Esta edição bilíngue tem tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André.”Avançai para a meta ao mesmo tempo, será pleno o prazer, quando, par a par, jazerem vencidos, a mulher e o homem”.

Poesia Completa (Quetzal), de Horácio, com tradução e comentários de Frederico Lourenço, numa edição bilingue, um livro fundamental para apreciar a arte poética deste gigante da poética latina, versos que “veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência”, que muito influenciou Camões, Pessoa ou Sophia.

Antologia Poética (D.Quixote), de Natália Correia, de quem se comemora este ano o centenário do nascimento, com organização, selecção e prefácio de Fernando Pinto do Amaral, em reedição, é uma óptima oportunidade para conhecer a magia do verbo iluminado dos sonetos românticos da poeta açoriana.

Baumgartner (ASA), de Paul Auster (n.1947, Newark) dá-nos a conhecer , em prosa elegante, o professor de filosofia que dá o título ao livro, um septuagenário que perdeu a mulher, poeta e tradutora, e que agora enfrenta o peso da idade mas sem perder o poder criativo, numa digressão pelo passado de ambos, num presente em que decide entregar a obra da falecida a uma jovem investigadora.

Bouvard & Pécuchet (E-Primatur), de Gustave Flaubert é, nas palavras de Maupassant, uma “Torre de Babel das ciências”, e um gozo infinito sobre o “mistério de todas as coisas”, por dois ociosos cavalheiros que se unem para alcançar um feito nunca visto e constituir uma grande “enciclopédia da estupidez humana”, entre o absurdo e o erudito, gerando uma obra hilariante, absurda e obsessiva, que fatalmente descamba num monumental insucesso, “numa explosão de comédia e caos”. Uma obra-prima.

Noites de Peste (Presença), de Orhan Pamuk (n.1952, Istambul), é a história fabulosa de uma ilha imaginária, Mingheria, situada a sul de Rodes, onde em 1901 ocorreram acontecimentos que envolveram a bisavó da narradora, uma historiadora que relata como a filha de um sultão deposto e o marido, médico, juntamente com o químico real, tentam debelar um surto de peste naquela parte do mundo onde se joga o futuro do império otomano. Num registo de fábula oriental, o livro é um monumento de invenção épica, numa trama de paixões que mudam a vida de todos.

Nómadas (Temas e Debates), de Anthony Sattin, é uma viagem pelos povos em movimento desde a sua incerta origem de caçadores-recolectores, de há cerca de doze mil anos ao presente, percorrendo os longos caminhos das estepes e grandes planícies, numa jornada épica de impérios moventes, que ao seu modo contribuíram para a civilização estática, na sua ligação ao mundo natural e ao paraíso perdido, sob o manto da abóbada celeste.

Pessoas Decentes (Porto Editora), de Leonardo Padura (n.1955, Havana), regressa com o icónico Mario Conde, antigo polícia, agora com sessenta e dois anos, mas com o faro intacto para dois assassinatos escabrosos vêm agitar as águas. Ele é convocado para auxiliar na investigação, que vai escavar no passado de uma figura do regime, fautor de apropriação, perseguição e suicídio, a que se junta a crónica de crimes com um século, no ano do cometa Haley. “Ah, e lembre-se, o passado é indelével e a História nunca acaba”.

As Minhas Estúpidas Intenções (D. Quixote), de Bernardo Zannoni (n. 1995, Itália), cujo narrador é um fuinha de nome Archy, que um velho raposo ensina a ler a Bíblia, transformando-o num ser com consciência quase humana, e que resolve escrever a sua vida atormentada de ser vivo senciente: “ Eu tinha no pensamento as palavras do Solomon, que o amor é uma coisa de estúpidos“.

Empúsio (Cavalo de Ferro), de Olga Tokarczuk, é um extraordinário romance quase gótico, que começa como um eco de “A Montanha Mágica” de Thomas Mann, passado num sanatório alemão em 1913, e quem tem como personagem central um jovem polaco de Lviv que para aí é enviado por tuberculose, mas que esconde uma outra condição que vai pouco a pouco assumindo, acabando por se transformar, tudo num universo povoado de conversas filosóficas, superstições criminosas e outras estranhas e fantásticas dimensões da realidade.

Uma nova História da Europa Central (Temas e Debates), de Martyn Rady (n.1955, Inglaterra), historiador de renome, dá-nos nesta obra as histórias que a Europa central encerra, desde a época romana aos dias de hoje, abarcando as diversas camadas que se foram agregando neste pedaço do continente tantas vezes feito e refeito ao sabor de impérios e eras, cadinho de culturas, ideias e povos.

Peregrinação (Assírio & Alvim), de Fernão Mendes Pinto, com introdução, fixação de texto e notas de Sérgio Guimarães de Sousa, é um clássico absoluto não só da literatura de viagens mas também um registo  do mundo asiático e dos seus povos, publicado em 1614, e da presença lusitana por tão distantes paragens, num documento histórico sem par.

José Guardado Moreira
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