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Atualidade Covid-19 aumentou taxa de abandono no ensino superior

08-07-2024

A taxa de abandono no ensino superior subiu em todas as áreas científicas, sendo a mais elevada na área da Educação, atingindo 14%. Este é um dos dados sublinhados no estudo sobre o impacto da Covid-19 no acesso ao ensino superior, realizado pelo EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo.

De acordo com esse estudo, “as medidas excecionais adotadas durante a pandemia para o acesso ao ensino superior não eliminaram as desigualdades socioeconómicas e educativas existentes”. Para além disso, “apesar das medidas terem facilitado o acesso ao ensino superior durante a pandemia, não foram suficientes para eliminar as barreiras estruturais que perpetuam as desigualdades entre os alunos”.

Ao Ensino Magazine a Fundação Belmiro de Azevedo explica, em nota, que “embora as medidas adotadas durante a pandemia tenham permitido o aumento do número de alunos a aceder ao ensino superior, não foram suficientes para garantir a transição de grupos tradicionalmente excluídos e o sucesso dos estudantes admitidos, deixando a descoberto as barreiras estruturais que persistem no sistema educativo”.

O estudo coordenado por Orlanda Tavares e Carla Sá, com as investigadoras Maria João Antunes e Ana Rita Luz, revela, “ao nível da transição para o ensino superior, uma disparidade acentuada nas taxas de transição entre alunos de cursos científico-humanísticos e profissionais. No ano letivo de 2021/2022, 72% dos diplomados de cursos científico-humanísticos ingressaram no ensino superior, enquanto apenas 22% dos diplomados de cursos profissionais o fizeram, mesmo existindo um concurso especial para estudantes provenientes das vias profissionalizantes”.

Citada no documento enviada ao Ensino Magazine, Orlanda Tavares considera que “embora um aumento no número de estudantes no ensino superior possa parecer um indicador positivo, isso não implica forçosamente um avanço em termos de equidade”. Na verdade, “as mudanças nas políticas de acesso ao ensino superior durante a Covid-19 não conseguiram aumentar a transição de alunos de grupos mais vulneráveis para o ensino superior, nem asseguraram condições de sucesso para aqueles que ingressaram. Por isso, mais não é necessariamente melhor”, reforça.

Na nota enviada à nossa redação, é referido que “cerca de metade dos estudantes de cursos profissionais são de famílias com educação até o 3º ciclo do ensino básico, tendem a enfrentar experiências negativas no ensino regular e a ter pouca confiança nas suas capacidades académicas. A componente qualitativa do estudo sugere que estes alunos se mostram céticos quanto aos benefícios do ensino superior, preferem cursos práticos que promovam competências diretamente aplicáveis no mercado de trabalho, e valorizam a independência financeira e experiências práticas. Essas preocupações, juntamente com uma visão negativa do mercado de trabalho em Portugal, tendem a desencorajá-los de prosseguir estudos superiores”.

De acordo com o estudo, alunos de nacionalidade portuguesa, com pais diplomados, de escolas privadas, e que obtiveram boas classificações em cursos científico-humanísticos mostram maior probabilidade de ingressar tanto em cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP) quanto em licenciaturas e mestrados integrados. Além disso, a expectativa de obter salários mais elevados com estudos superiores aumenta significativamente a probabilidade de os alunos prosseguirem para o enino superior.

Durante a pandemia, porém, “a probabilidade de não transitar para o ensino superior aumentou para alguns candidatos, mesmo com as medidas excecionais adotadas. Ser o primeiro na família a frequentar o ensino superior foi associado a menores probabilidades de frequentar cursos conferentes de grau, verificando-se uma maior tendência de escolha de um CTeSP ou de não prosseguir estudos. Além disso, alunos com classificações mais baixas viram uma redução significativa na probabilidade de se matricularem no ensino superior durante este período. Finalmente, embora a diferença salarial entre trabalhadores com e sem ensino superior incentive a transição para cursos superiores, essa tendência abrandou durante a pandemia”, adianta a mesma nota.

 

Sucesso no ensino superior

 

No que respeita ao sucesso no ensino superior, foram tidos como fatores em análise as taxas de permanência, de abandono, de mudança e de conclusão no tempo esperado. “Nos cursos de licenciatura e mestrado integrado, o estudo mostra que uma maior proporção de estudantes mulheres, inscritos em 1º opção, com pelo menos um dos pais diplomados e bolseiros está associada a taxas mais baixas de abandono e a maiores taxas de permanência e conclusão. Em contrapartida, a presença de uma maior proporção de trabalhadores-estudantes, estudantes admitidos via concursos especiais e estudantes internacionais tende a aumentar as taxas de abandono. Nos mestrados, uma maior presença de mulheres também se traduz em menores taxas de abandono e maiores taxas de permanência, ao passo que uma maior proporção de estudantes-trabalhadores e estudantes internacionais está associada a taxas de abandono mais altas, reforçando a tendência observada nos cursos iniciais”, esclarece a EDULOG.

Ao nível dos cursos de licenciatura e mestrado integrado, “a taxa de permanência nas universidades caiu em 2020/21 e só recuperou parcialmente no ano seguinte, enquanto nos institutos politécnicos a diminuição foi constante, acompanhada de um aumento no abandono. A taxa de abandono subiu em todas as áreas científicas, atingindo 14% em Educação. Apesar de uma maior proporção de estudantes colocados na primeira opção e de bolseiros mostrarem taxas de conclusão mais elevadas, a pandemia reduziu as taxas de conclusão no tempo esperado também para estes estudantes. Nos mestrados de 2º ciclo, a proporção de estudantes que concluíram dentro do prazo esperado foi menor durante a pandemia, embora os cursos com maior proporção de mulheres e de estudantes com pais com ensino superior tenham apresentado melhores taxas de conclusão”.

Face à análise realizada, o EDULOG apresenta recomendações em 4 eixos fundamentais: Diversificação das vias de acesso; Apoio financeiro e assistência social; Intervenções pedagógicas e apoio académico; E integração social e envolvimento estudantil.

 

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