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Patrícia Teixeira de Abreu Dislexia no dia a dia

24-05-2021

Patrícia Teixeira de Abreu é mãe de três filhas, sendo a mais nova disléxica. Licenciada em Economia com especialização em Marketing, tem complementado o seu percurso académico com várias formações na área comportamental. Depois do confronto com o diagnóstico da dislexia decidiu transformar o desafio numa oportunidade de crescimento para toda a família.
Procurou na neurociência o máximo de in- formação sobre o tema, na terapia da fala o apoio técnico e encontrou no coaching e na PNL (programação neurolinguística) ferramentas importantes para definir estratégias para ensinar a sua filha, no dia a dia, de forma diferente.
Em 2020 criou o blogue Dislexia Day by Day, com o intuito de incentivar outros pais a apoiarem os seus filhos através de um ensino mais criativo, divertido e eficaz. Em entrevista ao Ensino Magazine aborda a questão da dislexia sem tabus e fala do seu livro “Dislexia dia a dia” e do projeto que está a levar às escolas, com uma banda desenhada onde explica às crianças o que é a dislexia.

Dislexia dia a dia é um livro em que conta a sua experiência. Como é que carateriza a dislexia?
A dislexia é uma perturbação neurológica que se traduz numa dificuldade na descodificação da leitura, na escrita e memorização que afecta 10% da população mundial e tem um impacto muito grande na aprendizagem das crianças.

Este livro surgiu de que necessidade?
O livro vem na sequência do blog Dislexia Day by Day ( www.dislexiadaybyday.com) que surgiu de uma enorme solidão quando fui confrontada com a dislexia da Francisca aos 7 anos. Eu não fazia ideia que a dislexia era muito mais que uma troca de letras, e quando a terapeuta da minha filha me explicou que para além da terapia semanal (onde eu teria de estar presente) tinha de trabalhar com ela todos os dias sem excepção eu achei que isso não seria exequível. O trabalho poderia oscilar entre 30 min ou duas horas dependendo do nível das birras. Eu não conhecia ninguém disléxico e precisava de saber como se lidava com o dia a dia. Procurei livros, mas eram todos extremamente técnicos.

O blog é também uma forma de partilha?
Criei o blog, porque neste percurso de ajuda à Francisca percebi que tinha de me reinventar e ensinar a minha filha de forma diferente. Era esgotante para as duas continuarmos naquele braço de ferro entre o “tenho 7 anos e os meus amigos não têm de trabalhar como eu” e “ temos de fazer isto para conseguires aprender na escola” por isso comecei a ensiná-la de forma divertida (com jogos, brincadeiras, músicas, mnemónicas etc). No fundo a tornar a aprendizagem mais leve. Para me automotivar, e porque gosto muito de escrever comecei a escrever as nossas conquistas e as estratégias que usava. Um dia a Maria que é a minha filha mais velha desafiou-me a partilhar os textos com outros pais, para que não tivessem que passar pelo mesmo.

Neste seu livro conta sua história e da sua filha. Mas é mais que isso…
O propósito do livro foi proporcionar aos pais e professores uma visão global do que é a dislexia, em todas as suas vertentes: do ponto de vista emocional, técnico e legislativo. Por outro lado, a ideia foi também sensibilizar a sociedade em geral para um tema ainda tão escondido através de uma história real onde se percebesse de forma simples o que significa a dislexia na vida das crianças e das suas famílias.
Lembrei-me que seria giro contar a nossa história sem filtros a duas vozes: a minha e a da Francisca. Depois tive a sorte de me cruzar com pessoas e empresas fantásticas que prontamente se disponibilizaram para me ajudarem com a parte técnica, através de entrevistas.
A ideia do livro é que cada um possa escolher o nível de informação que quer ter e que precisa. Foi pensado também para as crianças disléxicas, pelo que tem os textos da Francisca com letra e espaçamento adaptados para uma leitura mais fácil para elas.

Para os professores e educadores também constitui um instrumento de apoio ?
O livro é importante também para os professores porque inclui várias ideias importantes: a primeira é a que o sucesso só surge se houver um forte trabalho de equipa entre a escolas, os pais e o terapeuta da fala, depois explica o contexto emocional associado a esta dificuldade que acaba por ter um forte impacto na família. Por último, para além da descodificação da legislação, inclui um conjunto de boas práticas simples que a escola pode implementar e que farão toda a diferença na aprendizagem destas crianças.

Para além do livro e do blog, tem um projecto gratuito para as escolas para a sensibilização para a dislexia: o Projecto Escolas - Dislexia em Banda Desenhada. Como é que as escolas se podem inscrever?
Das lágrimas gordas da Francisca quando vinha da escola, percebi que se não explicássemos às crianças em geral o que é a dislexia, a vida destas crianças seria muito mais difícil. Criei uma Banda Desenhada com as oportunidades da dislexia e preparei uma acção de dinamização em sala de aula para as escolas. A Fidelidade apoiou o projecto e disponibilizou-se para oferecer a Banda Desenhada às escolas que se inscrevessem. A acção está prevista para a semana da dislexia (10 de outubro). Neste momento já temos 17 escolas inscritas e espalhadas por todos o país e 10.000 crianças, mas queremos ter muito mais. As escolas podem-se inscrever através de email para pat.abreu2@gmail.com.
Às vezes falamos de diversidade e inclusão e associamos a acções que precisam de passos gigantes, mas na verdade são as pequenas atitudes de cada um de nós no dia a dia que fazem toda a diferença. Se cada um de nós na sua esfera de influência der um passo por dia em direcção à inclusão ao final do ano são 365 passos. O que podemos fazer hoje? Explicar aos nossos filhos, família e amigos que a diferença nos permite ir muito mais longe e inscrever as escolas neste projeto.

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