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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

1ª Coluna Os indesejáveis

06-06-2025

No espaço de uma semana Donald Trump e Vladimir Putin adotam posições, que não sendo idênticas, têm muito em comum e revelam uma ânsia de controlar a educação, a ciência e a investigação. Se na Rússia, que vive numa clara autocracia de pulso forte e sem contemplações para quem não está de acordo com as suas políticas - típicas de Estados em ditadura -, ações contra instituições de ensino ou culturais possam não surpreender; nos Estados Unidos da América, país em que a democracia é o pilar da sua existência, em pouco mais de 100 dias da administração Trump foram implementadas medidas que procuram controlar as universidades americanas e aquelas, que estando noutros países, têm relações com os EUA.

Noutras ocasiões tive oportunidade de criticar e explicar os ataques a que a Universidade de Harvard - uma das mais conceituadas do mundo – tem sido alvo, mas também as portuguesas a quem lhes foi exigido esclarecimentos sobre se estas têm relações com entidades associadas a partidos comunistas, socialistas ou totalitaristas, e que medidas adotam as universidades portuguesas para preservar as mulheres das ideologias de género.

A posição do presidente americano subiu de tom. Esta semana, como noticiado pela Lusa, “foi assinada uma ordem executiva que impede estrangeiros de entrarem no país para estudar na Universidade de Harvard, acusando a instituição de ter fomentado um aumento dramático da criminalidade”.

Em comunicado aquela academia classifica a medida como “ilegal e de retaliação da Administração, que viola os direitos da Primeira Emenda de Harvard. Harvard continuará a proteger os seus estudantes internacionais”. Também a 4 de junho, a presidência dos Estados Unidos ameaçou retirar à Universidade de Columbia, a sua acreditação, o que poderia privar a prestigiada instituição de todo o financiamento federal. Em causa está, segundo Donald Trump, o facto da “Universidade de Columbia não proteger os estudantes judeus no seu campus”. A academia de Nova Iorque não compreende as críticas e as ameaças, reforçando a ideia de que “está profundamente empenhada no combate ao antissemitismo no seu campus. Levamos este problema a sério e continuamos a trabalhar com o governo federal para o resolver".

Na Rússia, o Ministério Público classificou como indesejável o British Council – uma organização fundada em 1940, que pretende promover as relações culturais e a compreensão de diferentes culturas entre pessoas e povos do Reino Unido e de outros países. Entre outras atividades promove cursos de língua inglesa. Com o estatuto de indesejável terá fechar portas naquele país, à semelhança de outras 298 organizações a quem foi atribuído esse ‘diploma’.

 "Sob o pretexto de atividades educativas e culturais (...) e do ensino da língua inglesa, os membros do conselho promovem, na verdade, os interesses a longo prazo e valores britânicos", acrescentou, citado pela Agência Lusa, o Ministério Público russo, acusando a instituição de "fazer propaganda ativa" do movimento LGBT, proibido na Rússia por ser considerado extremista pelas autoridades, acusou o British Council de participar em operações dos serviços especiais britânicos "que visam minar a soberania dos países independentes".

Em comum os líderes dos dois países, outrora numa guerra fria que aqueceu o mundo, pensam de forma muito semelhante e com arrogância. Nunca os Estados Unidos e a Rússia tiveram tantos pontos em comum nas ações adotadas. 

Os prémios Nobel Guido Imbens (Economia 2021), Douglas Diamond (Economia 2022) e Charles Rice (Medicina 2020) consideram "mesmo que, as políticas implementadas pela administração de Donald Trump em relação à economia e ao apoio à investigação podem provocar um retrocesso e uma transição de 20 anos" (in Lusa).

O ataque ao ensino, à investigação e ao conhecimento terá, a médio-longo prazo, efeitos nefastos para aqueles dois países e, como referi na minha anterior Primeira Coluna, poderá ser uma oportunidade para as instituições de ensino superior da Europa e de outros países emergentes, que podendo captar estudantes, professores e investigadores de topo, poderão também reforçar a sua cooperação com as universidades e organizações afetadas. No fundo, em conjunto, poderão tornar-se elemento chave de novas cooperações que serão benéficas para todos, dando mais um exemplo ao mundo de como ameaças se podem transformar em oportunidades. Haja visão e coragem para enfrentar a obsessão totalitarista de governantes que querem, e estão, a brincar com o mundo e a quem muitos já chamam de indesejáveis...

 

João Carrega
DIRETOR
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