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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Primeira Coluna Maturidade, literacia e manipulação

21-07-2025

“Uma graçola bem feita no Tik Tok transforma um imbecil num herói”. As palavras são do escritor Valter Hugo Mãe e foram proferidas ao Ensino Magazine, numa entrevista notável, que coloca o dedo na ferida de uma sociedade em que a chegada à idade adulta não coincide com a maturidade exigida a quem já tem o poder de votar e de decidir a sua vida.
Numa outra perspetiva, João Canavilhas, professor e investigador da Universidade da Beira Interior - de quem foi vice-reitor -, explica que “o formato vídeo é o mais eficaz para passar determinada mensagem. Facto que é preocupante porque redes como o TikTok estão muito ligadas aos jovens. Os estudos revelam que há cada vez mais jovens a informar-se através das redes sociais, enquanto nas gerações mais velhas ainda existe um contrapeso com os media tradicionais.”.
O coordenador do estudo “Desinformação nas Legislativas 2025: atividade dos partidos nas redes sociais” adianta que “as pessoas acabam por ser mais crentes em relação ao que veem, face ao que leem ou ouvem, daí esta ser uma das estratégias utilizadas pelos partidos políticos”, como explicou à Lusa.
Estes dois exemplos, sendo diferentes, coincidem no consumo de informação sem que a mesma seja posta em causa ou verificada. Assistimos a um cenário em que assuntos sérios são tratados sem relevância. Em contrapartida, os ‘sound bites’ (leia-se frases curtas com impacto) dominam o espaço mediático. Em que não há profundidade - de forma propositada - no tratamento da informação. Em que o rigor não o é, de todo, deixando muito por explicar, mas indicando o caminho do pensamento num determinado sentido, normalmente condenatório, ou de jubilação ao líder.
O combate à desinformação é desigual. Um desmentido é um desmentido. Não tem o mesmo impacto, nem será lido pelo mesmo número de pessoas. Pode mesmo gerar desconfiança. Se os mais jovens exibem falta de maturidade, nas gerações mais velhas há a tendência de acreditar em tudo o que aparece na internet.
A literacia digital e a literacia mediática assume um papel determinante no combate à desinformação. Algo que deve começar nas escolas, com os mais novos, à semelhança do que foi feito noutros domínios, como a sustentatibilidade e o meio ambiente. É fundamental que quem recebe a informação (ou a desinformação) consiga descodificá-la e questioná-la à luz dos princípios elementares da comunicação e da sua envolvente.
A velocidade a que se movimenta o mundo digital não é a mesma do mundo informativo rigoroso que se exige aos órgãos de comunicação social. Infelizmente é a mesma do mundo propagandista em que o presidente do país mais poderoso do mundo, afirmou, em campanha eleitoral, que os imigrantes comem os seus animais de estimação; em que se afirma que não houve holocausto ou, ainda, que as escolas portuguesas não têm lugar para os alunos nacionais porque os estrangeiros ocupam as vagas. E isto conhecemos nós, porque aquilo que é transmitido em grupos de redes fechadas como o whatsapp ou o próprio Messenger elevam a desinformação, a acusação e o dedo condenatório a um outro nível. Exige-se maturidade aos seus receptores. Só assim não serão manipulados.

João Carrega
Diretor carrega@rvj.pt
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