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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Primeira coluna Filhos do algoritmo

23-06-2025

“Falamos muito de estratégias para abordar a vida online, mas esquecemo-nos da vida offline”. As palavras são de Ivone Patrão, psicóloga especializada em comportamentos de dependências online e devem merecer a atenção de todos. O tema não deve ser analisado de uma forma superficial e exige responsabilidade das famílias e da sociedade.

No Japão há já um nome próprio para as pessoas que só vivem online. Chamam-lhes “hikikomori”. São mais deprimidas, muitas vezes com perturbações de personalidade e com patologias do foro mental. A questão ganha mais relevância quando estamos a falar de crianças e jovens. A supervisão torna-se importante. Ivone Patrão, doutorada em psicologia da saúde e docente no ISPA, considera que “sem supervisão será o algoritmo a educar as crianças e os jovens”.

A verdade é que as novas tecnologias, o uso de telemóveis – que na prática são computadores de bolso e que permitem quase tudo, menos fazer tostas mistas –, das redes sociais ou canais online, deixam de fora os abraços, o toque, o olhar nos olhos, as conversas faladas. Substituem-nos por likes, por emojis ou por comentários numa nova linguagem gráfica que torna tudo mais fácil, menos pessoal. A felicidade é gerada através do número de gostos ou de partilhas, mas também de seguidores. Como bem explica Ivone Patrão, “na vida offline não temos cem pessoas a dizer estás muito giro(a)”.

A responsabilidade é de todos, famílias, escola e sociedade. Diferentes estudos referem que a percentagem de pessoas dependentes da tecnologia varia entre os 10 e os 15%. Mais do que proibir o que quer que seja - proibir o seu uso, seja nas escolas ou noutros locais, nunca será a solução - é fundamental apostarmos na sensibilização, na formação em literacia digital (de professores, alunos, pais...), na mudança de comportamentos (nós próprios, adultos, nem sempre damos o melhor exemplo: o telemóvel está sempre presente – é como refere Eduardo Marçal Grilo uma prótese no nosso corpo).

Como em tudo na vida, o que é em excesso faz mal. A questão que se coloca é: queremos que as novas gerações sejam filhos do algoritmo? Colocada a pergunta desta forma parece-me que haverá unanimidade na resposta, mas falta de consenso no modo como evitar essa possibilidade. Importa ouvir os investigadores, psicólogos, médicos, educadores, professores, a comunidade e a nossa consciência. Só desse modo se tomarão medidas concretas sem proibições nem excessos.

João Carrega
DIRETOR carrega@rvj.pt
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