O programa Erasmus (hoje Erasmus+), já o referi em diferentes registos, foi - e é - um dos mais bem-sucedidos programas com ligação à educação que a União Europeia criou. São centenas de milhares os jovens que aproveitaram (e aproveitam) a oportunidade de ‘tirarem’ parte dos seus cursos numa universidade ou politécnico estrangeiros. Esta possibilidade, de serem cidadãos à escala global, não só lhes permite adquirirem e partilharem conhecimentos, mas, acima de tudo, confere-lhes ‘mundo’.
Contudo, há um conjunto de aspetos que merecem ser limados e que colocam, em muitos casos, os estudantes Erasmus em dificuldades num país diferente do seu. Falo, por exemplo das condições de alojamento, em que o que parece nem sempre é o que se encontra nas residências de estudantes das universidades de acolhimento.
Há casos, comprovados, de quartos de 10 metros quadrados, para dois estudantes, em pisos com corredores em que habitam cerca de 40 alunos de ambos os sexos, com apenas uma casa de banho de resposta. Certamente que também haverá o inverso. Mas é nos que agora referi que as instituições de ensino superior portuguesas se devem focar, de modo a garantir as melhores condições de habitação aos seus alunos que vão para Erasmus.
A questão do alojamento é crucial para o sucesso académico e para experiência académica ‘Erasmus’. As universidades - leia-se instituições de ensino superior - não podem estabelecer acordos com congéneres suas sem garantirem as condições mínimas. Não basta fazer protocolos e afirmar que a mobilidade tem crescido. Imaginem o que é, uma jovem ou um jovem, de 19 anos, chegar a uma residência, como a que atrás descrevi, e verificar que nem as malas da roupa cabem no quarto? E que apenas há uma casa de banho por piso! Imaginem a ansiedade provocada nesses estudantes, que num país diferente, se veem confrontados com a necessidade de arranjar quarto fora da residência a preços superlativos e num mercado que não conhecem. Os que não têm essa possibilidade podem ver transformada uma experiência de sonho, num pesadelo diário.
Mais, ou tão, grave como essa, surge a questão das ‘equivalências das disciplinas’. Neste processo, os estudantes escolhem previamente as ‘cadeiras’ da universidade de acolhimento, submetendo os seus currículos à universidade de origem, para que possam ser validados os créditos. Depois deste processo, pressupõem-se que, chegados à instituição que os recebe estarão matriculados nas disciplinas cuja equivalência foi aprovada. Puro engano!
Com relativa frequência os estudantes são confrontados com o facto das turmas estarem cheias ou de, imagine-se, nesse ano letivo não ser lecionada essa disciplina. O que fazer, num país que não é o seu, com regras e burocracias diferentes? Insistir, insistir com a universidade de acolhimento... sem que a de origem intervenha e exija a colocação dos seus estudantes. Na prática os alunos são deixados à sua capacidade interventiva e de iniciativa, correndo o risco de concluir o semestre sem os créditos necessários.
Volto a afirmar: o programa Erasmus foi - e é - um dos mais bem conseguidos da União Europeia. Mas as estatísticas não são tudo! Aspetos com o os que atrás abordei não podem caber nas relações e nos acordos estabelecidos entre as universidades europeias – e agora também de outros continentes. São tóxicos e devem ser denunciados, para que a mobilidade dos estudantes e a sua formação não traga consigo desespero, mas que, pelo contrário, garanta a todos uma experiência positiva num mundo educativo cada vez mais global...