Este ano entraram nos estabelecimentos de ensino superior do país, pelo Concurso Nacional de Acesso (CNA), menos cinco mil alunos do que no ano passado. Contas feitas, das 55 mil 292 vagas disponibilizadas em todo o país ficaram por preencher mais de 10 mil. Só foram colocados 45 mil 290 estudantes.
Praticamente todas as instituições perderam alunos face ao concurso do ano passado, mas foi nas universidades e politécnicos dos territórios de baixa densidade que essa quebra foi mais notória, sobretudo no ensino politécnico.
Podemos apontar diferentes razões, como as dificuldades financeiras, o custo do alojamento para os estudantes deslocados da sua área de residência, a perceção que o país tem da importância dos seus filhos terem formação superior, ou ainda - e penso que é a questão mais pertinente - o facto deste ano terem mudado as regras de acesso (via CNA), com três exames nacionais obrigatórios para a conclusão do secundário (podendo, tendo em conta o curso desejado, os estudantes terem que fazer mais algum que seja exigido pela universidade ou politécnico) e a maior ponderação das notas de exame na média de entrada nos cursos.
Volto a repetir: ficaram mais de 10 mil vagas por preencher e foram milhares os jovens que optaram por não avançar para uma licenciatura no ensino superior. É certo que o CNA é apenas uma das vias de entrada nas universidades e politécnicos, e em algumas instituições são responsáveis apenas por cerca de 50 por cento do seu número total de alunos.
Parece-me, contudo, que o país continua distraído sobre este facto. Por um lado o Ministro da Educação, Ciência e Inovação (MECI), Fernando Alexandre, numa declaração infeliz chama privilegiados aos estudantes que estão nas universidades e politécnicos - sabe-se lá com que dificuldades económicas associadas, que os apoios deixam de fora praticamente toda a classe média. Por outro, assistimos a uma inércia e a uma falta de propostas por parte dos candidatos às autarquias portuguesas.
O país está a discutir o futuro dos concelhos, das cidades, vilas e aldeias, mas sobre esta matéria que vai para além da qualificação dos cidadãos, nada se diz. Nada se discute. Não consigo entender como é que os pretendentes a presidentes de câmara ou de freguesia deixam de fora do debate político e das suas propostas o ensino superior. Por acaso ainda não perceberam que a rede de ensino superior é o principal instrumento - e porque não dizê-lo o único com provas dadas - para a coesão territorial e social?
No litoral até entendo que se tenha a perceção que as IES são um dado adquirido e que possam ser vistas como imutáveis. Mas nos territórios de baixa densidade são as universidades e os politécnicos que promovem essa coesão. Que injectam dinheiro nas economias regionais. Que atraem pessoas, fixam quadros qualificados, desafiam o aparecimento de empresas inovadoras, que garantem a autoestima. No interior do país, por cada euro investido pelo Orçamento de Estado nas universidades ou politécnicos há um retorno para a economia que varia entre os 2,5 e os 3,5 euros, podendo nalguns casos ser superior.
De resto, o ensino e a educação também não foram o cerne da questão no debate para as legislativas - e é na escola que todos somos formados e por onde todos passamos. Mas no caso das autárquicas, salvo algumas exceções, a generalidade dos candidatos olha para o ensino superior como um assunto que é lá das universidades ou dos politécnicos…
Se não perceberem que o futuro tem que se fazer em conjunto e de mãos dadas, com projetos concretos que alavanquem as instituições e as cidades, o risco de colapso das IES dos territórios de baixa densidade, a médio-prazo, é muito elevado. Dois ou três anos com esta quebra do número de caloiros… é uma questão de se fazerem as contas. Quem perde é o país, mas primeiro são as regiões.
O Poder Central nunca teve a coragem de tratar diferente o que é diferente, e o Poder Local poucas vezes soube contrariar isso. Ainda falta uma semana para o final da campanha eleitoral. Será que vamos ouvir propostas concretas? Ou vamos passar o tempo a ouvir música para os nossos ouvidos, com promessas de circunstância, mal fundamentadas e sem qualquer efeito prático, numa espécie de assobiar para o lado?
O médio-prazo está quase aí…