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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

1ª Coluna A vida das crianças e dos jovens na era digital

15-05-2025

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) acaba de divulgar o seu relatório “Como é a vida das crianças na era digital?”. Os dados revelam que, em 2021, 93 por cento das crianças até aos 10 anos de idade já tinham tido algum contacto com a internet, e cerca de 70% já tinha telemóvel/smartphone. O tema volta para cima da mesa com a publicação daquele estudo, bem referenciado pela Agência Lusa.

Se avançarmos no nível etário, verifica-se que, em 2022, 96% dos jovens com 15 anos dos países da OCDE (38% em todo o mundo) tinham computador ou tablet. Se consideram os números elevados, o que dizer dos 98% de jovens com smartphone com ligação ao mundo web?

A estes dados junta-se o tempo que os jovens estão ligados aos ecrãs: 50% dizem fazê-lo 30 horas por semana, ou seja quase o horário de trabalho completo de um adulto. Significa isto que, em circunstância alguma, devemos olhar para esta questão com ligeireza e com a adoção de medidas punitivas para os jovens.

Num outro artigo defendi que a proibição dos telemóveis nas escolas não será o melhor caminho. Neste estudo, a OCDE recomenda que “se aumente a cultura e as competências digitais das crianças, destacando o papel essencial da escola e dos professores na sua capacitação progressiva”. Reforça ainda que os pais recebam orientações para ajudarem as crianças e os jovens a retirar o melhor dos dispositivos, como revela a Lusa.

No mesmo relatório, a OCDE olha para as tecnologias digitais como um instrumento de “incalculáveis” oportunidades para aprender, divertir e interagir com os outros. Numa outra face, alerta para os perigos que lhe podem estar associados e que podem influenciar o desenvolvimento e a saúde mental dos jovens.

“O uso problemático dos meios digitais pode ser associado, entre outros, ao uso excessivo de ecrãs, ao ‘cyberbullying’ ou à exploração ‘online’, e prejudicar os ciclos de sono, o desenvolvimento físico e a saúde mental, particularmente sob a forma de ansiedade e depressão”, refere o estudo.

A vida das crianças e dos jovens na era digital não é fácil de perceber. E para agirmos corretamente teremos que conhecer as suas opiniões, as suas experiências ou o apoio que a família e a escola lhes prestam. Mas também as suas perceções sobre os efeitos que a utilização das tecnologias digitais tem ao nível da saúde mental e física, da desinformação ou da divulgação de conteúdos impróprios.

Só com esse conhecimento se poderá regulamentar ou implementar políticas digitais, envolvendo as famílias e a escola, para que a utilização desses meios possa ser segura e promotora de conhecimento e bem estar. Mas como poderá a escola responder? E as famílias? E a sociedade? Acredito que com formação e ações de esclarecimento, a par de uma legislação esclarecedora, balizada, que imponha regras e puna os seus infratores, isso poderá ser possível.

Para que haja sucesso, todos devemos estar convocados, sabendo que o mundo digital anda mais depressa do que as ações legislativas ou formativas que possamos desenvolver. Exige-se, por isso, responsabilidade, com a certeza que tudo começa em casa, passa pela escola e regressa ao mundo individual e coletivo de cada um de nós. É do modo como estamos a construir a sociedade do futuro que estamos a falar. 

João Carrega
Diretor carrega@rvj.pt
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