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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

1ª Coluna A saúde mental na acreditação das universidades e politécnicos

20-06-2025

A saúde mental nas instituições de ensino superior (IES) mereceu, por parte da Direção-Geral do Ensino Superior, uma atenção especial, disponibilizando 12 milhões de euros para as Instituições de Ensino Superior (IES) desenvolvessem e candidatassem projetos adaptados às suas necessidades. Esta nova realidade está a mudar o paradigma de como as academias olham para o bem-estar dos seus e como devem intervir, sem preconceitos associados a um passado não muito longínquo.

Há não muitos anos, estudantes, sobretudo estes, mas também professores e não docentes, fechavam-se sobre si próprios quando eram confrontados por situações de stress, depressão ou outro tipo de patologia do foro mental. Da parte das academias a resposta a este tipo de situações era pontual e, entre pares, a vergonha de pedir ajuda falava sempre mais alto do que a necessidade. Felizmente as coisas estão a mudar e as universidades (leia-se no sentido lato de todas as IES) devem encarar esta questão com uma visão reforçada, capaz de ser diferenciadora no país e no estrangeiro.

Por cá, diferentes especialistas defendem que na acreditação das universidades devem ser tidos em conta indicadores de bem-estar estudantil. Solicitam também “formação contínua para professores sobre saúde mental, comunicação empática e diversidade cultural”, como acaba de ser noticiado pela Agência Lusa.

Esta proposta surge na sequência da elaboração do estudo “Ecossistemas de Aprendizagem Saudáveis nas Instituições de Ensino Superior em Portugal”. Um trabalho coordenado pela investigadora e psicóloga Tânia Gaspar e que, como revela a mesma notícia, conta com a participação de “participação de diversos especialistas, como Miguel Xavier, da coordenação nacional das políticas de saúde mental, Maria do Céu Machado, professora catedrática da Universidade de Lisboa e especialista em Saúde e Gestão, Margarida Gaspar der Matos, especialista em Psicologia e Saúde, e Helena Canhão, especialista em Saúde que foi diretora da NOVA Medical School e é atualmente secretária de Estado da Ciência e Inovação”.

O estudo revela que 30% dos estudantes inquiridos estão em elevado risco clínico. Diz aquele documento de esses estudantes apresentam três ou mais sintomas de burnout (caraterizado por um estado psicológico de exaustão física, fadiga extrema; por exaustão cognitiva ou mental, com dificuldades de concentração e raciocínio; ou exaustão relacional, dificuldade com os outros e com a própria atividade, como explica Maria José Chambel, pró-reitora da Universidade de Lisboa).

Outros estudos recentes revelam que 55% os estudantes universitários que abandonaram os seus estudos dizem tê-lo feito por stress emocional e 47% por fatores relacionados com a saúde mental. O relatório da Amarican Psychological Association, de 2020, mostra que os jovens entre os 18 e os 23 anos reportavam mais stress que as pessoas de outras gerações, e destes eram os estudantes universitários que mais o faziam. Aliás, 87% afirmaram que a sua vida enquanto estudantes era uma fonte significativa de stress que afetava a sua saúde.

Perante estes dados parece-me claro que as academias devem ter uma intervenção ativa nesta área, não só junto dos estudantes, mas também perto dos professores e funcionários. Indicadores de diferentes estudos referem apontam para problemas de saúde mental nessas classes.

A inclusão de indicadores de bem-estar, não apenas dos estudantes, mas de toda a comunidade académica, deve começar a fazer parte da avaliação e acreditação das instituições de ensino superior. Acredito que essa medida irá contribuir para a adoção medidas ainda mais efetivas no combate a este problema que leva a que muitos alunos abandonem ou comprometam os seus estudos, e que muitos professores e funcionários tenham baixas prolongadas ou, não as tendo, desempenham de forma deficiente a sua vida profissional condenando também a sua vida pessoal e social. Uma universidade infeliz será sempre uma academia condenada e sem futuro.

João Carrega
DIRETOR carrega@rvj.pt
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