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Beatriz Rosário, cantora Um talento em alta velocidade

23-06-2025

Considerada uma das maiores promessas do fado, Beatriz Rosário explora novas sonoridades, que resultam da combinação de tradição e modernidade. «ALFA» é o álbum que representa a sua estreia musical.

O seu novo trabalho, «ALFA», é um disco com 14 faixas, que no fundo é uma viagem entre Coimbra, a cidade onde nasceu e se formou, e Lisboa, a capital, onde agora vive e passa a maior parte do tempo. É este contexto que explica as influências “pop” e urbana, mas sem nunca perder de vista a sua grande paixão, o fado?

Este disco é o produto de constantes viagens, nos últimos anos, entre Coimbra e Lisboa. Estas deslocações, quase todas de comboio, foram-se sucedendo, fui crescendo, surgiram novas experiências. Conheci o amor e o desamor. E são essas histórias que estão explanadas no disco. Fiz muitas deslocações de comboio «ALFA», mas no fundo o título que escolhi para o disco funciona como uma metáfora para as viagens que fiz e que todos nós fazemos nesta vida. E são essas viagens que nos fazem aprender mais coisas. Convidei a Estudantina Universitária de Coimbra  a juntar-se a este projeto, com a participação nas músicas «Coimbra tem mais encanto» e «Madalena». A primeira foi a reinvenção de uma melodia tantas vezes cantada pelos estudantes mais antigos. Este tema foi reescrito tendo em conta este projeto a que se deu o nome «ALFA». É uma carta de despedida e que significa que, muitas vezes, só damos valor a algo, quando deixamos de a ter.

Na música «Madalena» fez algo arrojado, desafiando uma tradição. Pode explicar?

Esta música (que é uma das minhas prediletas) também é uma reinvenção da original que ouvi vezes sem conta nas queimas das fitas e nas latadas. Mas sempre cantada por tunas académicas masculinas, o que foi algo que me deixou um nó na garganta. Com esta versão espero ter dado o meu contributo para que se abra a porta para que este tema passe a ser incluído no repertório das tunas femininas. Para já, a reação está a ser ótima e o objetivo está a ser cumprido: tenho recebido muitos vídeos de estudantes femininas que vão acompanhadas pela «Madalena» no seu percurso para a universidade. O que é muito bonito, mesmo sabendo que Coimbra é uma cidade universitária onde o peso da tradição é grande.

A exploração do que chama o neo fado ou fado alternativo está no âmago da sua identidade musical. Esta nova forma de abordagem à canção nacional significa que os puristas do fado foram vencidos?

Ainda há os que por serem mais tradicionais, não apreciam estas fusões e novas abordagens, justificando que  pretendem proteger este bem maior cultural que é o fado. E estabelecem sempre uma fronteira entre o que para eles é o fado e aquilo que não é o fado. Eu respeito. Mas o meu percurso tem uma história: nasci do fado, canto fado, mas não sou a típica fadista de uma casa de fados. E com o passar do tempo experienciei novos momentos que fizeram nascer em mim a necessidade de criar novas coisas. A musica “pop”, o “jazz” e o “R&B” são influências que juntei ao fado e procurei criar algo que é  meu.

Este tipo de abordagem ao fado pode facilitar a internacionalização da sua carreira?

Era algo que amava, sinceramente. A minha missão é vir a pertencer ao património cultural português e representar o meu país além-fronteiras. A música é um dar e receber. Tenho a noção da capacidade do meu aparelho vocal, mas também sei que música cura e liberta as pessoas. Por isso é que é mágica e tem o poder de ultrapassar fronteiras.

Billie Eilish, Rosalía e Amália Rodrigues são as suas referências do presente e do passado. Como é que a nossa eterna diva do fado ia reagir a este neo fado?

Não sei, mas gostaria muito de saber. Infelizmente, não tive a sorte de me ter cruzado com a Amália Rodrigues. Ela é, sem dúvida alguma, o meu ídolo maior. Adoraria conversar com ela, nem que fosse por 5 minutos, para saber a sua visão sobre este novo rumo do fado. Mas sei que ela sempre foi uma pessoa futurista, algo à frente do seu tempo. Ela intelectualizou o fado, trazendo novos poetas e músicos que engrandeceram a sua obra, levando o fado aos quatro cantos do mundo.

O ano passado foi designada «embaixadora digital» da Universidade de Coimbra (UC). Apresenta o “podcast” «Sintonias inesperadas», em que convida estudantes daquela faculdade que se destacam em várias dimensões culturais, seja o teatro, a escrita ou as canções. Como é que surgiu este convite?

O convite partiu porque estudei na UC, onde concluí a licenciatura em Economia na Faculdade de Economia (FEUC). Sempre tive uma vida muito ligada às artes e à cultura. Por isso, pareceu-me um projeto, à partida, muito interessante exibir o talento que existe em muitos dos jovens que estudam na UC. Acredito que nesta e noutras universidades do país existem muitos talentos escondidos. Estudantes que podem estar a cursar Engenharia, Medicina, Gestão ou até Direito, mas que têm uma capacidade incrível para as artes, seja para representar, escrever, tocar, etc. Este “podcast” visa mostrar casos concretos de talentos com mérito e potencial. Estudantes que conciliam o seu trabalho universitário com estes seus hóbis. Considero fundamental a parte cultural estar presente na nossa vida: a socialização melhora a 200 por cento, bem como a coordenação, a disciplina, o método e até as capacidades cognitivas.

Para além da formação em Economia, tem ainda o mestrado em “marketing intelligence” na NOVA Information Management School. De que forma é que estas ferramentas académicas são úteis para a construção da sua carreira?

São sempre importantes, independentemente da área a que se referem. Permitem-nos ter um olhar mais aberto e crítico perante o meio onde estamos inseridos. Em síntese, são janelas de oportunidade para ficarmos com a mente mais aberta, possibilitando-nos refletir de uma forma mais completa. Não estou minimamente arrependida de ter feito estas formações, até porque estas áreas acabam por me acompanhar na música: tenho que falar com contabilistas, com a editora para definir a estratégia, etc.

Para concluirmos, duas perguntas numa só: Pensa fazer da música a sua vida? Em alusão ao «ALFA», que dá nome ao disco, a sua carreira é um comboio a ganhar velocidade?

A resposta é só uma: sim, quero muito fazer da música a minha vida e continuar a impactar e a surpreender as pessoas com o meu trabalho. Ambiciono que esta viagem continue. Para já chegou a Santa Apolónia, em Lisboa. Mas do que depender de mim, tudo farei para que o comboio ou outro meio de transporte me levem para outras latitudes.

 

A CARA DA NOTÍCIA

Um nome em homenagem à avó

 Aos 26 anos é um dos talentos que emerge da nova geração de artistas. Beatriz Santos é o nome de batismo, mas adotou Beatriz Rosário como nome artístico, em homenagem à avó, que sempre insistiu para que explorasse o seu talento. Nasceu em Coimbra, mas é em Lisboa que agora se instalou para continuar a sua carreira musical. O seu primeiro single «Ficamos por aqui» foi o pontapé de saída. «ALFA» é o disco que lançou em fevereiro, com «Raspão», «Madalena» e «Coimbra tem mais encanto» a serem algumas das melodias mais reconhecidas.

Nuno Dias da Silva
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