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Lusofonia Guiné Bissau: estudo revela que ensino superior não contribui para desenvolvimento e reduzir pobreza

08-06-2022

A oferta de estabelecimentos de ensino superior na Guiné-Bissau está quase toda concentrada em Bissau e os cursos disponibilizados não contribuem para os objetivos de desenvolvimento e redução da pobreza, refere um estudo divulgado dia 8 de junho.

O “Estudo Diagnóstico da Educação Superior e Investigação Científica: Oportunidades e Recomendações”, elaborado pela Fundação Fé e Cooperação (FEC) e financiado pela União Europeia, é o primeiro do género realizado no país.

Segundo o estudo, a rede de ensino superior “tem uma distribuição territorial fortemente assimétrica” e “evidencia consequências ao nível da equidade do sistema pois as despesas que a situação de deslocado implica, são determinantes para o acesso ao ensino superior e para o crescimento do setor”.

Os dados referem que quase 55% das instituições do ensino superior estão localizadas na região de Bissau e que apenas a região de Tombali não tem um estabelecimento de ensino superior.

Em relação à oferta formativa, 18 estabelecimentos de ensino oferecem licenciatura, mas apenas cinco são instituições públicas.

O estudo mostra também que o número de alunos a frequentar o ensino superior no atual ano letivo é de 17.025, o que representa um aumento de 31,1% em relação ao ano letivo anterior, número que ultrapassa largamente os 15.000 previstos até 2025.

O aumento de matrículas revela que o número de inscritos do sexo masculino é superior às inscrições do sexo feminino.

O estudo revela que o ensino superior técnico se restringe à formação de professores e que é “deficitário nas áreas científicas, indispensáveis à formação superior técnica qualificada exigida pelo desenvolvimento do país”.

“Os cursos científicos e tecnológicos representam apenas 11% da oferta total, existindo apenas um curso ligado à transformação de produtos agrícolas, um curso ligado à pesca e um curso ligado à indústria extrativa, testemunhando a dificuldade da economia guineense na transformação dos seus recursos naturais”, aponta o documento.

Empresários, entrevistados no âmbito do estudo, afirmaram que “recorrem ao estrangeiro, nomeadamente Níger, Senegal, Marrocos, Cuba e Portugal, para obter mão-de-obra qualificada em áreas científicas, por carência de oferta guineense”.

“Existem apenas três cursos no ramo da hotelaria e turismo para um país com uma vasta extensão de costa que pode ser explorada de forma rentável, garantindo a proteção do ambiente e da biodiversidade, sendo que apenas existe um curso na área do ambiente e do mar”, nota o estudo.

Os entrevistados salientaram que o ensino superior “não contribui para os objetivos de desenvolvimento e redução da pobreza por diversos fatores, nomeadamente o facto de não existir uma prática de criação de cursos em função de um levantamento das necessidades das empresas e aos objetivos de desenvolvimento definidos pela governação”.

“Predominam os cursos de papel e lápis, sendo que a formação em cursos técnicos, com algumas exceções, não é desenvolvida, apesar de ser uma chave para melhorar a relevância do ensino superior”, sublinha.

O estudo revelou igualmente que os conteúdos programáticos dos mesmos cursos são diferentes consoante o estabelecimento e que há falta de bibliotecas, laboratórios, acesso à Internet e outros equipamentos, o que dificulta a investigação.

Outra conclusão do estudo refere também a maior parte dos docentes do ensino superior apenas têm o grau de licenciatura, que muitos apenas têm o bacharelato, e poucos têm o doutoramento, apesar de se estar a registar um aumento de professores com o mestrado.

O estudo demonstrou que os professores do ensino superior são mal pagos, têm uma carga horária excessiva e não têm condições para fazer investigação.

“Sendo a Guiné-Bissau um país com limitações em termos de recursos que haja um maior investimento na cooperação internacional não só com universidades estrangeiras, mas também com as agências de desenvolvimento. Sem um investimento sério no ensino superior a educação básica vai continuar a sofrer”, afirmou Carlos Cardoso, coautor do estudo, e diretor do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral.

Lusa
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