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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

José dos Santos Costa, presidente do Politécnico de Viseu IPV abre-se à cidade

26-02-2024

O Politécnico de Viseu (IPV) quer aumentar o número de alunos e pretende abrir o seu campus académico à cidade. José dos Santos Costa, presidente da instituição, apresenta as linhas estratégicas para o futuro. Sublinha a importância das parcerias e defende uma forte ligação às empresas e autarquias do distrito.

Recentemente, o Conselho Geral aprovou o seu plano de actividades. Quais são as linhas gerais desse plano e quais são os  seus objetivos principais?

O nosso Plano de Atividades vai ao encontro do plano Estratégico 2030 da instituição. Nesse sentido, há um conjunto de matérias que desejamos concretizar. Uma delas é o crescimento do número de estudantes. Esse é um enorme desafio. Temos cerca de 6300 estudantes. Estamos num território cujo número de estudantes que frequentam o 10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade nos permite, se trabalhamos bem e de uma forma adequada, poder recrutar e atrair o número de estudantes que colocamos no concurso nacional de acesso. Não nos podemos dar ao luxo ou permitir que cerca de 1500 estudantes que saem do ensino secundário e ensino profissional não prossigam aqui os seus estudos. Portanto, o nosso desafio é, no âmbito do território onde estamos colocados, poder palmilhar novos concelhos e atrair esses alunos para frequentar o Politécnico de Viseu, seja no âmbito CTESP ou das licenciaturas. No fundo, queremos fidelizar os estudantes do nosso distrito, que tem quatro comunidades intermunicipais. São os estudantes que dão vida às instituições, que permitem trazer novos professores, gente para o território e talentos.

A internacionalização é outra das apostas?

A vertente internacional é uma área que queremos potenciar. Desde que integrámos a Universidade Europeia Eunice, muitas portas se abriram - sobretudo no contexto das 10 instituições de ensino superior que trabalham connosco -, para docentes, não docentes e estudantes. Isto permite-nos integrar grupos de trabalho, criar novas dinâmicas no âmbito de cursos de licenciatura, mestrado ou doutoramento. Esse é um caminho que estamos a percorrer, que esperamos consolidar e que nos garante aumentar mobilidades e contactar com outras realidades nas áreas do ensino, da inovação pedagógica e científica. Ou seja, permite-nos suportar a nossa instituição em áreas que são fundamentais para o seu crescimento. Esta é uma forma de nos afirmarmos regional, nacional e internacionalmente. No IPV já tínhamos a questão da mobilidade. Integramos o Erasmus Centro desde o seu início. Com países da América Latina e África temos uma força enorme. Por isso reforçámos a nossa equipa de internacionalização. Hoje acabamos por ter indicadores que são muito favoráveis à dinâmica criada.

Essa dinâmica como pode ser potenciada no território?

Como referi, estamos sempre a falar de estudantes e de valorização da instituição. Nós só poderemos ser mais fortes se estivermos junto de instituições que são fortes. É a lógica 1+1 ser igual a quatro, sem as contas estarem erradas. Esse é o nosso desafio. Temos um outro ponto, que é fundamental, que passa pela ligação à comunidade e pela transferência do conhecimento. O Politécnico tem uma excelente relação com o mundo empresarial e institucional. Os nossos alunos estão integrados, ao longo do seu percurso, nas empresas. Mas, devemos olhar para esse repto na perspetiva de criar oportunidades de emprego e estágios com as empresas da nossa região. Formamos, por ano, entre 800 a 1000 diplomados. A Associação Industrial da Região de Viseu tem cerca de 800 a 1000 empresas associadas. O nosso desafio é promover, em conjunto, oportunidades para fixar e atrair jovens diplomados no território, criando-lhes oportunidades de estágios e de emprego.

E essa relação está a resultar?

Sempre resultou, porque, felizmente, Viseu é uma cidade que tem crescido de uma forma sustentada. Quando olhamos para o interior, esta é a única cidade, de norte a sul do país, que cresce em termos de população. Viseu, neste momento, tem mais de 100 mil habitantes e muitas empresas foram criadas, inclusive empresas gazelas. A cidade teve um ano de 2023 muito positivo e tem um tecido empresarial forte. Mas, mais do que ter empresas fortes, precisamos de fortalecer as relações entre o instituto e essas empresas. Temos que pensar, em conjunto, para poder fixar e reter talentos que ajudam realmente a promover desenvolvimento.

Dentro da estratégia do IPV, qual a prioridade que é dada à investigação?

É outro desafio importante. Temos quatro unidades de investigação. Duas delas estão avaliadas com muito bom e duas com bom. Sabemos, ou pelo menos antecipamos que o futuro Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior possa permitir aos politécnicos usar a nomenclatura Universidade Politécnica em português, pois em inglês já o podemos fazer, e possam oferecer os doutoramentos. Em conjunto com os politécnicos de Castelo Branco, Coimbra e Santarém, propusemos a criação de um doutoramento em sustentabilidade agroalimentar e ambiental, que esperamos ver aprovado no âmbito da A3ES. Mas há outras áreas, como a saúde, gestão ou o digital, que constituem desafios. E para isso, temos que ter unidades de investigação avaliadas com muito bom.

Esses doutoramentos serão feitos em rede?

Este é em rede. No futuro também. Ninguém vive isolado. Devemos comungar oportunidades, potenciar as competências dos professores,  a capacitação instalada e partilhá-las num um objetivo comum em termos de futuro. O somatório final pode dar a excelência, se realmente conseguirmos conjugar e pensarmos o futuro dessa forma. O futuro será sempre mais risonho se formos capazes de agregar e promover as relações inter-institucionais, entre professores e estudantes. É na partilha, e na cooperação que se ganha o futuro.

A esse nível os politécnicos têm trabalhado bem?

Muito bem. Existe um trabalho de cooperação forte. Mas ainda é possível fortalecê-lo mais. A reivindicação dos institutos ou do ensino superior deve ser feita com maior acuidade. A importância que os institutos têm nos territórios onde estão instalados é muito grande. Quem consegue manter vida em muitos territórios são os politécnicos. Se mapearmos o país de norte a sul verificamos a importância dos institutos, qual a massa humana que está dentro das academias e o que isso representa. Em Viseu temos 6300 alunos num contexto de um concelho que tem 100 mil habitantes.  Ou seja, o IPV tem um peso significativo. Para além da importância dos saberes, tem uma valorização e uma importância económica no território fundamental. O orçamento do Politécnico para 2024 é de 39 milhões de euros. No distrito de Viseu são poucos os concelhos que têm um orçamento anual desta dimensão.

Pelo que entendi, a estratégia do Politécnico pretende também potenciar as condições físicas da própria instituição e da cidade?

Não podemos pensar em atrair estudantes se não tivermos condições físicas e relacionais que nos ajudem a ter felicidade no lugar onde nós estamos. Viseu é uma cidade amiga dos estudantes e está trabalhar para ser ainda mais amiga dos alunos. É conhecida como a cidade com melhor qualidade de vida e onde dá gosto viver. A criação da nova residência, com capacidade para 150 camas, e a requalificação das outras num investimento de cerca de 11 milhões de euros, demonstra essa nossa preocupação. O que também acontece com a construção das novas instalações da Escola Superior Agrária, que representam 4,8 milhões de euros. As instituições de ensino superior têm de ser espaços de felicidade.

Ao nível da equipamentos será instalado um Centro de Inovação no Campus?

Iremos celebrar um protocolo de cedência de superfície para criar dentro do Politécnico um dos 31 centros de tecnologia e inovação do país. Em breve, lançaremos o concurso de construção do Centro de Tecnologia e Inovação na área do ramo automóvel, que ficará dentro do campus, e que integra um dos maiores grupos económicos do mundo, num investimento de 7 a 8 milhões de euros. Além do IPV, estão também envolvidos o Politécnico da Guarda, e as universidades de Coimbra, Porto e Beira Interior. Será algo muito inovador, onde a investigação estará sempre muito presente e que nos permite, simultaneamente, poder partilhar espaços. Esta ligação entre o sistema científico e o mundo das empresas será uma imagem de marca que, no âmbito secundário e do ensino profissional, nos ajuda a atrair novos estudantes. Outra questão que para nós é crucial passa pela conjugação entre o ensino presencial e o ensino a distância.

O Campus ganhará uma nova dimensão e ficará mais atrativo?

Estamos numa fase de procurar dar uma nova harmonia ao campus politécnico. Se nós não criarmos melhorias significativas para que as pessoas gostem de estar aqui presencialmente, dificilmente atrairemos novos estudantes. Ou seja, temos que ter as instalações melhoradas. Não é por acaso que vamos abrir duas salas de estudo que estarão abertas 24 horas. E também não foi por acaso que nós requalificámos quatro campos de ténis, através de um protocolo com a Federação Portuguesa de Ténis. Hoje, temos gente a vir aqui mais vezes.

A ideia é que a comunidade venha ao campus?

Nós entendemos que o Instituto é da cidade e deve ser um espaço aberto para que a comunidade possa frequentar. Hoje intitulamos esta área como Campus politécnico, mas gostávamos que ele se passasse a designar de Jardim Campus Politécnico, para que as pessoas possam dele desfrutar. Temos o Master Plano do Campus elaborado. Queremos que se olhe para o Politécnico como um espaço de vida permanente, numa simbiose e numa reciprocidade perfeita entre o mundo do ensino e o mundo da comunidade. O desafio é que o politécnico seja realmente da comunidade e para a comunidade.

Falou há pouco da Escola da Agrária que vai ter um novo edifício. Para quando é que isso está previsto?

O concurso será terminado fevereiro. A obra tem um prazo de execução de 16 meses e muito importante, pois a Escola estava deficitária em termos de infraestruturas. Acontece que tivemos que permutar um terreno com a Confraria de Santo António, o que aconteceu em 2021. Fizemos a candidatura e iremos edificar a nova escola num espaço que é nosso. Este é um marco histórico e um momento único de oportunidade de mudança estratégica da própria escola.

Estas novas infraestruturas podem dar origem a novas formações?

Este ano letivo já abrimos uma nova formação em Biotecnologia. Temos que pensar como poderemos potenciar este novo edifício. O corpo docente da Agrária é muito qualificado e está envolvido em projetos de investigação muito fortes. Mas importa captar e atrair novos estudantes.

A maioria dos alunos que vêm para o Politécnico de Viseu são da região?

65 a 70% dos nossos estudantes são provenientes do distrito de Viseu. Significa que conseguimos chegar ao distrito e somos uma referência. Por isso é que eu digo que não podemos deixar de aproveitar os tais 1500 estudantes. Temos um potencial de crescimento enorme.  

E os politécnicos têm a vantagem de poder captar alunos pelos CTESP…

Exatamente. Quando abrimos CTESP’s em Moimenta da Beira e em Sernancelhe, em 2022, pretendemos aproximar o Instituto dos territórios. Temos, com um outro concelho, um protocolo assinado. É na proximidade que podemos atrair novos estudantes e, sobretudo, valorizar os territórios. Se nós somos subsidiados pelo Estado, então temos a obrigação de contribuir para o crescimento dos territórios, ajudando a formar pessoas que depois vão desenvolver e promover a região.

Da parte dos concelhos houve essa abertura?

Houve uma total receptividade. A nossa relação com os concelhos é fortíssima. Já tínhamos a Escola de Gestão em Lamego, que nos últimos dois anos cresceu 200 estudantes e para onde  temos conseguido levar empresas de caráter tecnológico, como a IBM ou a PWC. Em Moimenta da Beira criámos CTESP, mas fizemos em conjunto, com a autarquia, uma candidatura para uma residência de estudantes que já está a ser edificada. Em Lamego e Viseu a mesma coisa. Costumamos dizer que juntos construímos o futuro. Esse é o nosso maior desafio.

Ao nível do corpo docente como é que está a ser feito o rejuvenescimento do corpo docente?

É um desafio enorme. Temos procurado, paulatinamente, ir colocando novos docentes. Vou dar o exemplo da saúde, onde a Escola tinha a maior média de idades nos professores. Nos últimos dois anos recrutámos dez professores. É uma transição que está a ser feita com calma. O Instituto tem um quadro de pessoal em regime integral e de exclusividade com 280 professores, dos quais 81% são doutorados. Mas quando olhamos para a globalidade do Instituto, verificamos que o número de docentes oscila durante o ano,  entre os 560 e 600 professores, fruto dos contratos parciais. É um número tremendo que tem um impacto de massa salarial por ano de cerca de 26 milhões euros. Significa que o nosso desafio vai no sentido de conjugar aquilo que é a nossa disponibilidade financeira com o recrutamento, atempado de novos docentes para depois poderem estar aptos quando os mais antigos saírem.

E o Orçamento de Estado não cobre a totalidade dos vencimentos…

Não chega. O ensino superior tem um subfinanciamento institucional. O valor que recebemos do Orçamento de Estado, é de 24 milhões de euros. Só a nossa massa salarial é quase de 26 milhões. E estes 24 milhões, como nós sabemos, é para o pessoal e para o funcionamento. A outra grande parte das verbas necessárias resulta das receitas próprias diversas e dos projetos em que estamos envolvidos. Acontece que as instituições precisam de dinheiro para manutenção dos próprios edifícios e do equipamento científico, que é fundamental e que hoje faz toda a diferença. Há mais de 20 anos, que não existe, a não ser por projetos, uma renovação do equipamento de caráter científico que é fundamental nos diferentes departamentos. Só que a procura de novos projetos de investimento ou de caráter científico, exige uma recursos humanos qualificados. Em dezembro tínhamos 42 projetos nacionais e internacionais de grande vulto. Passámos de um orçamento, em 2014, de 22 milhões euros para, em 2024, de 39 milhões. Isto obriga a ter pessoas qualificadas para acompanhar os projetos. Pede-se muito às instituições. Este subfinanciamento asfixia as instituições e, sobretudo, cria uma situação de bajulação permanente, que não é benéfica.

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