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Bocas do galinheiro Christopher Plummer, um senhor actor

22-02-2021

Mais uma perda de vulto. O eterno Capitão Von Trapp de “Música no Coração”, Christopher Plummer, faleceu no passado dia 5, tinha 91 anos. O papel que o celebrizou, foi também o que o atormentou. O seu nome ficou colado ao da personagem, o que lhe desagradava. (Há pouco tempo também Elton John anunciou que deixaria de interpretar o mega sucesso “Crocodile Rock”, porque parece ser a único tema que as pessoas conhecem do seu vasto repertório). Mas o êxito do filme de Robert Wise foi tal que esta interpretação, apesar de não ser a favorita do actor canadiano, se interpôs de tal forma, quase obnubilou uma carreira longa e distinta, não só no cinema, mas principalmente no teatro, arte que sempre privilegiou.
Nascido a 13 de Dezembro de 1929 em Toronto, já com uma consolidada carreira como intérprete teatral, nomeadamente de Shakespeare, tendo actuado várias vezes com a Royal Shakespeare Company, no Festival de Teatro de Stratford no Shakespeare Memorial Theatre em Stratford-Upon-Avon, em “Richard III”, “Much Ado About Nothing”, entre outras, bem como no Stratford Shakespeare Festival de Ontario, e ainda na Bradway, em produções de “Othello”, “Macbeth” ou “Rei Lear”, estreou-se no cinema em 1958 em “Stage Stuck” (Lágrimas da Ribalta), de Sidney Lumet, ao lado de Henry Fonda e Susan Strasberg. Foi o início de uma longa carreira no grande ecrã, que complementou sempre com o teatro, arte em que foi reconhecido com a nomeação para sete Tony, sendo que entre eles estão interpretações em “Rei Lear” e “Othello”, tendo arrebatado dois: em 1974 pela sua interpretação no papel principal do musical “Cyrano” e em 1997, no papel de John Barrymore na peça “Barrymore”, papel que reassumirá no filme com o mesmo nome, de 2011, realizado por EriK Canuel.
Na longa careira de mais de 60 anos no cinema, o seu primeiro protagonista aconteceu no segundo filme “A Floresta Interdita” (Wind Across the Everglades, 1958), dirigido por Nicholas Ray, onde interpreta um ornitólogo que luta contra uma família de caçadores furtivos nos Everglades, filme que se veio a revelar um enorme fracasso comercial, pondo mesmo em risco a carreira de Ray. Mas não por causa de Plummer. Será com “A Queda do Império Romano” (1964), de Anthony Mann, a primeira grande produção onde entra, fazendo Commodus, filho de Marco Aurélio e, claro com “Música no Coração” que a sua carreira dispara. Deste último não vale a pena acrescentar mais nada, quer Plummer quer Julie Andrews, a protagonista feminina, serão sempre lembrados por este filme. Mea culpa! Para ele, que foi dobrado nas canções, assunto encerrado. Para a actriz, no seu papel da noviça Maria, (A Noviça Rebelde, nome do filme no Brasil) foi o desenvolvimento normal para quem tinha ganho o Óscar por “Mary Poppins”, de Robert Stevenson, em 1964, e que faria depois uma série de musicais ao longo da carreira, alguns dirigidos por Blake Edwads, com quem foi casada até à morte dele, como “Querida Lili” (1970) e “Victor/Victoria” (1982).
Curiosamente será no final da carreira que Christopher Plummer verá o seu trabalho de várias décadas ser reconhecido pelos seus pares. A primeira nomeação para os Óscares aparece em 2009, em “A Última Estação”, de Michael Hoffman, onde encarna o escritor Lev Tolstoi. Finalmente em 2011, com 82 anos, tornou-se o ator mais velho a ganhar um Óscar, como melhor actor secundário, tal como a nomeação anterior, em “Assim é o Amor” (Beginners, 2010), de Mike Mills, no papel de um pai de família que depois da morte da mulher assume a sua homossexualidade. A terceira nomeação para os Óscares, também como secundário, aconteceu em 2018 com o filme “Todo o Dinheiro do Mundo”, dirigido por Ridley Scott, sobre o rapto do neto do magnata do petróleo J. Paul Getty, que John Paul Getty III, raptado em Itália em 1973 e da intransigência do avô em não pagar o resgate, o que só veio a fazer (emprestou o dinheiro ao filho, com juros!) depois de os raptores cortarem uma orelha ao jovem e a enviarem por correia a um jornal. Esta sua interpretação é magnífica, não só pelos recursos de que Plummer dispunha, mas pelo facto de ter filmado todas as suas cenas em oito dias, uma vez que substituiu Kevin Spacey, afastado do filme na sequência das acusações de índole sexual de que foi alvo.
Apesar destes êxitos recentes, muitas foram as grandes interpretações que assinou durante uma carreira brilhante no cinema, de que podemos destacar “O Homem que Seria Rei” (1975), de John Huston, ao lado de Sean Connery e Michael Caine, onde é o escritor britânico Rudyard Kipling; é Rommel em “A Noite dos Generais” (1967), de Anatole Litvack, numa adaptação da novela de Hans Hellmut Kirst; em “Malcolm X” (1992), de Spike Lee, é o capelão da prisão onde que tenta converter o ainda Malcom Little, Denzel Washington, ao cristianismo; com Spike Lee volta a rodar em 2006 no “Infiltrado”, onde tem um curto mas marcante papel como um banqueiro filantropo, mas que esconde um passado de colaboração (e enriquecimento) com o regime nazi; em o “O Informador”(1999), de Michael Mann, em que é o jornalista e entrevistador da televisão Mike Wallace, e os segredos à volta da indústria do tabaco; em “Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres” (2011), de David Fincher, baseado na novela homónima de Stieg Larsson, em que interpreta o patriarca Henrik Vanger , que contrata o jornalista Mikael Blomkyist para escrever a história da família, dando assim início a uma saga policial nórdica marcantes, mesmo depois da morte de Larsson; com “Verdade Debaixo de Fogo (2019) e ”Knives Out: Todos São Suspeitos” (2019), este como um escritor de policiais assassinado, o que gera uma grande disputa na família, com um naipe de excelentes actores a acolitá-lo, encerrou a sua passagem pela representação. “Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo” (2009), de Terry Gillian, “Processo Arquivado por Ordem Real”, em que é Sherlock Holmes, são outras fitas para o recordar, para além da sua entrada em “O Regresso da Pantera Cor-de-Rosa” (1975), de Blake Edwads, ao lado do saudoso Peter Sellers.
Um daqueles actores a quem o epíteto de estrela assenta que nem uma luva.
Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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