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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Rita Rodrigues, jornalista da CNN Portugal/TVI A repórter que recebeu os parabéns do Papa

13-09-2023

Desde muito nova apaixonada pelo jornalismo, Rita Rodrigues teve na exaustiva cobertura que fez da Jornada Mundial da Juventude o ponto alto da sua carreira profissional e que recordará para sempre, também do ponto de vista pessoal, pelas felicitações que o Papa Francisco lhe dirigiu no dia do seu aniversário, no voo de regresso a Roma.

Foi um dos principais rostos da CNN Portugal/TVI na intensa cobertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023. Disse numa entrevista que, de uma forma geral, se apercebeu que a juventude que esteve em Portugal, na primeira semana de agosto, é uma «geração com bons valores». No mesmo evento, combinou-se o espírito de um festival de verão e a vivência da fé e dos valores cristãos, sempre num registo de grande responsabilidade e civismo?
Foi essa a ideia com que fiquei. Não houve notícias de desacatos nem de situações de violência nos dias da Jornada. Nem sempre se conseguem juntar multidões e garantir que a convivência é tão harmoniosa. Num dos dias da jornada, numa viagem de táxi, um condutor realçava exatamente esse lado ordeiro dos jovens que estavam em Lisboa e acrescentava que eram todos muito limpos e que não os via a atirar nada para o chão. Acredito que a larga maioria das pessoas que de alguma forma acompanhou a JMJ e os jovens que estiveram em Lisboa durante essa semana ficou com a perceção de que, em termos gerais, o evento foi pautado pela responsabilidade e pelo civismo.

Deverá estar para breve a apresentação do relatório e contas da JMJ. Uma contabilidade «ao cêntimo», como prometeu o bispo D. Américo Aguiar. Apesar da fatura que será apresentada, que se antevê pesada, acredita que este evento será, para sempre, recordado com orgulho pelos portugueses?
Não tenho uma visão assim tão otimista e nem é pela polémica que o evento gerou ainda antes de começar, devido aos custos e ao seu financiamento. A sociedade vive num ritmo tão acelerado que tende a esquecer com facilidade mesmo momentos aparentemente marcantes. E, por isso, penso que, embora no dia em que a Jornada chegou ao fim tenha havido essa perceção quase generalizada de orgulho, no dia em que o tal relatório for revelado a sensação pode facilmente mudar.

O processo de acreditação para o voo que transportou o Papa Francisco de Roma para Lisboa não foi propriamente fácil. O Vaticano recusou, inicialmente, por falta de lugar, o pedido da CNN/TVI. Mais tarde, veio,
também do Vaticano, a boa nova que já havia lugar. Do tempo que privou com os elementos do “staff” do Papa ficou com a sensação de que as regras são particularmente rígidas?
Sim, as regras são rígidas e são para cumprir. Mesmo no Vaticano há regras bem claras para a comunicação social. Só para dar um exemplo, embora a Praça de São Pedro seja de acesso livre a qualquer pessoa, os jornalistas não podem passar as grades sem autorização, menos ainda se o objetivo for fazer um direto ou gravar umas simples imagens. Enquanto estivemos lá tivemos de pedir autorização prévia para assistir dentro da praça à missa de domingo, o “Angelus”. Mas só podíamos captar imagens e não podíamos entrevistar ninguém.

Confirma que a própria conferência de imprensa do Papa a bordo só pôde ser exibida duas horas depois de o avião ter aterrado?
Em relação ao voo de regresso a Roma e à conferência de imprensa, houve um acordo entre todos os jornalistas quanto ao embargo até podermos divulgar a informação. Mas não foi imposto pelo Vaticano. É uma prática comum entre os jornalistas que costumam acompanhar o Papa.

Existiram algumas orientações prévias por parte da assessoria de imprensa do Vaticano, nomeadamente quanto ao teor das perguntas formuladas ao Papa?
Não. Os jornalistas tinham de organizar-se por línguas e tinham direito a fazer uma pergunta. No caso dos portugueses, tínhamos duas perguntas porque Portugal tinha sido o país visitado. Portanto, juntámo-nos e concertámos os assuntos que eram mais importantes. Indicámos, em traços gerais, o teor das perguntas, mas não houve orientação nem interferência do Vaticano.

Quis o destino que a viagem de regresso do Papa, a Roma, a 6 de agosto, coincidisse com o seu aniversário. Um dia que habitualmente não trabalha, mas por coincidir com o último dia da JMJ quis fazê-lo. Receber
os parabéns do Sumo Pontífice é juntar o melhor de dois mundos, o pessoal e profissional?
Fui uma enorme surpresa e, simultaneamente, um marco pessoal e profissional. Eu nunca costumo trabalhar no meu aniversário, mas este ano quando percebi que o último dia da Jornada coincidia com o meu aniversário, tomei a iniciativa de pedir para trabalhar. Senti que seria um acontecimento importante para o país, uma missa celebrada pelo chefe da igreja católica, possivelmente para milhares de pessoas, e tive vontade de estar lá. Mas quando manifestei essa vontade não imaginei que, meses depois, ia viver a experiência ímpar que vivi. Foram duas semanas e meia muito ricas em que tive a oportunidade de sair do estúdio e voltar a fazer reportagens e diretos, primeiro no Vaticano, depois em Lisboa durante a JMJ e, por fim, ainda voltei a Roma, de novo no voo do Papa. Há duas imagens que vou guardar: por um lado a alegria contagiante dos jovens no Parque Eduardo VII e no Parque Tejo e a felicidade no rosto dos portugueses que iam para a rua acenar ao Papa; e por outro, o sorriso do Papa Francisco no contacto próximo que tive com ele, nos dois voos. São imagens que a profissão tornou possível e que vou guardar durante toda a vida. 

Esteve também, em maio, na coroação do rei Carlos III, em Londres. No passado, em 2015, já tinha estado na cobertura dos atentados de Paris e, em 2017, no rescaldo dos incêndios de Pedrógão Grande. Como
jornalista, é mais fácil ou mais difícil gerir as emoções num evento marcado pela tragédia ou num acontecimento marcado pela celebração?
No meu caso, é mais fácil trabalhar em momentos de celebração, mas também são muito mais raros. E porventura é por serem tão raros que os faço com uma alegria acrescida. Sinto que, de alguma forma, também estou a levar alguma felicidade aos telespectadores que apreciam acontecimentos felizes e se deixam contagiar pelo momento de boa disposição que estão a acompanhar pela televisão. Infelizmente, os jornalistas ouvem muitas vezes as pessoas comentarem que “só passamos tristezas na televisão”. E não é fácil dar essas notícias. Custa-me tanto quanto às pessoas que estão em casa a ver as notícias. Com os anos e a experiência vamos criando mecanismos para gerir esses trabalhos e lidar com os dramas dos outros, mas é sempre difícil.

No seu perfil que a CNN disponibiliza no site, pode ler-se que «durante a adolescência já sabia que queria entrar pela casa das pessoas através das notícias, de preferência de última hora». O jornalismo foi o primeiro e único amor profissional?
Foi. Soube que queria ser jornalista ainda durante a adolescência e contra a vontade dos meus pais segui o meu desejo e intuição. Não vou dizer que a profissão seja um mar de rosas, muito pelo contrário. Há momentos de desânimo e às vezes de alguma desilusão e, ultimamente, sinto que é uma profissão que tende a ser desvalorizada. Mas, justamente por esse motivo, tenho a certeza de que é cada vez mais importante que haja jornalismo sério e livre. A internet está cheia de desinformação. Há negacionistas para todos os gostos. É muito fácil as pessoas deixarem-se manipular pelo que leem nas redes sociais. O jornalismo é fundamental para separar o trigo do joio.

Na TVI desde 2009, para o lançamento do canal 24 horas, transitou para a CNN Portugal, em novembro de 2021, sempre no «Agora CNN», entre as 15h e as 18 horas. Como se sente a fazer esse horário e, já agora, sobe-lhe a adrenalina quando surge alguma notícia de última hora?
É um horário muito exigente porque há sempre muitas coisas a acontecer e, portanto, requer uma grande capacidade de adaptação ao desconhecido. Podemos ter um alinhamento todo muito bem preparado e, de repente, surge uma notícia imprevista e muda completamente o que estava organizado. Mas esse é também um dos lados mais apaixonantes do jornalismo. São os tais momentos que ativam a adrenalina ora porque temos a noção de que se está a fazer história, ora porque sabemos que aquele acontecimento vai alterar a ordem das coisas e as pessoas precisam perceber de que forma é que terão de adaptar-se às consequências do que está a acontecer. É um misto de responsabilidade social e superação profissional.

Principalmente nas deslocações que faz ao estrangeiro, a marca CNN, mesmo sendo o recém-criado canal português uma espécie de “franchising” do canal norte-americano, é um “salvo conduto” que abre muitas portas?
Sinto que há um reconhecimento internacional que porventura pode não existir quando nomeamos um canal de televisão cuja realidade é apenas nacional. A marca CNN é conhecida em todo o mundo, portanto esteja onde estiver se disser que trabalho para a CNN as pessoas sabem a que marca é que me refiro. Mas isso não significa que seja necessariamente um salvo conduto que abre todas as portas. Em contextos mais exigentes, as regras têm de ser cumpridas por todos, independentemente do canal ou jornal para que o jornalista trabalhe. Em termos de credibilidade e reconhecimento, é que sinto que as pessoas identificam mais rapidamente a marca.

O bom desempenho da CNN em termos de audiências é um facto, suplantando já a SIC-Notícias e, com uma distância ainda maior, a RTP-3. Os múltiplos diretos e uma forte componente de análise e debate foram a
receita que ditaram uma rápida aceitação do público?

Não terão sido os únicos ingredientes desta receita que se tem mostrado do agrado dos nossos telespectadores, mas são certamente vetores muito importantes e que marcaram a diferença. A realidade é que o planeamento e a estrutura dos alinhamentos de cada jornal exigem muitas horas de trabalho, muitas cabeças a pensar, muito trabalho de preparação prévio e esse esforço reflete-se no ar. Na verdade, essas duas questões que salienta, os diretos e a análise, são possivelmente aquilo que as pessoas procuram num canal 24 horas de notícias. Querem saber e ver o que está a acontecer, não só em Portugal como no resto mundo. Mas querem também perceber o que significam esses acontecimentos e que impacto é que podem ter nas suas vidas. Para isso é preciso ter repórteres na rua, por um lado, e especialistas em estúdio a fazer esse trabalho de enquadramento. Uma boa parte do trabalho de retaguarda na redação é procurar pessoas capazes de explicarem o que está a acontecer. E diversificar esses rostos. É um processo sempre em curso, porque há sempre novas coisas a acontecer, sobre assuntos diferentes, e muitas horas de jornal para ouvir pessoas diferentes.

Para finalizar, as questões sobre o futuro do jornalismo. As redes sociais, a crise dos modelos de negócio e agora a inteligência artificial são apenas algumas das ameaças ao jornalismo nos dias de hoje. Apesar do
difícil contexto, a busca incessante pela verdade, a responsabilidade social e a credibilidade associada a esta profissão vão prevalecer? As notícias da morte do jornalismo são manifestamente exageradas?

Todas essas questões são efetivamente ameaças, mas simultaneamente razões para o jornalismo subsistir e, até, ser mais necessário e útil. Nas redes sociais cada um escreve o que quer e ninguém lhe exige regras, nem tão pouco que explique a origem dessas conclusões. Na imprensa as pessoas sabem que o que está escrito tem critérios. Os jornalistas têm o dever de fazer o contraditório, ouvir mais do que uma pessoa e mais do que uma versão. E é com base nessa multiplicidade de vozes que depois as pessoas fazem as suas avaliações e tiram as suas ilações. Por outro lado, o jornalismo é fundamental enquanto veículo de investigação e de denúncia de abusos de poder, de casos de corrupção e de outras situações que condicionam e muitas vezes prejudicam a vida das pessoas. Além de que, num país em que o sistema de justiça funciona com tanta lentidão e burocracia, a imprensa é frequentemente a única forma de muitos de se fazerem ouvir. 

Na redação em Queluz de Baixo, onde se localizam as instalações da TVI e da CNN, cruza-se, diariamente, com muitos jovens que estão a dar os primeiros passos na profissão. Não sendo ainda uma veterana, já leva alguns anos de carreira. Que conselhos dá aos que um dia ambicionam, por exemplo, estar no seu lugar, como pivô, a apresentar uma emissão em direto?

A função de pivô há muito que deixou de ser exclusiva dos veteranos. Vemos cada vez mais jovens a assumi-la e os telespectadores que, eventualmente numa fase inicial terão estranhado ver gente tão nova a apresentar as notícias, entretanto adaptaram-se. Às gerações mais novas aconselho-as a, antes de mais, avaliarem se esta é mesmo a profissão que querem seguir. Podem, por exemplo, falar com algum jornalista para perceber, em traços gerais, quais são as rotinas da profissão, os horários e até o salário médio. Já me apercebi de jovens que durante o estágio se manifestam desiludidos com os horários ou com as remunerações. Eventualmente criaram expetativas durante o curso que depois não correspondem à realidade. Trabalhar na antecipação é um bom truque logo na fase de chegada ao mercado de trabalho, mas depois também. Aliás, um dos conselhos que considero mais importantes é mesmo estarem sempre preparados. E, para isso, é preciso ler muito e ser curioso. As perguntas fazem parte desta profissão seja na hora de fazer uma entrevista, seja quando estamos a preparar algum trabalho. Quanto mais perguntas fizermos, mais respostas e conhecimento iremos obter. Para conduzir emissões em direto é fundamental estar sempre a par da atualidade, para saber reagir a qualquer eventualidade, mas também ter memória, lembrar o que aconteceu há um ano, há cinco, há dez. E, claro, ter boa capacidade de comunicação: falar bem e respeitar a língua portuguesa.

 

A CARA DA NOTÍCIA

Atentados de Paris, Incêndio de Pedrógão e…a visita do Papa

Rita Rodrigues nasceu em Aveiro, a 6 de agosto de 1981. Licenciou-se em Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Começou pela imprensa escrita, seguiu-se a rádio e depois a televisão. Chegou à TVI em 2009 para o lançamento da TVI24. Desde então apresentou jornais em todos os horários. Conduziu e coordenou diversas emissões especiais entre as quais os atentados terroristas em Paris, em 2015, o grande incêndio em Pedrógão Grande, em 2017, o funeral de Jorge Sampaio em 2021 e a coroação de Carlos III, já este ano. Acompanhou de perto, antes, durante e depois, a JMJ 2023, que se realizou em Lisboa. Entra diariamente na casa dos portugueses, das 15 às 18 horas, no «Agora CNN», a mostrar o que está a acontecer no país e no mundo.

Nuno Dias da Silva
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