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Bocas do Galinheiro Peter Bogdanovich, mas não só

24-01-2022

Peter Bogdanovich, um dos nomes marcantes do cinema americano, morreu no passado dia 6 aos 82 anos. Integrante da chamada geração de cineastas, conhecida como Nova Hollywood, que integrava, entre outros William Friedkin, John Carpenter, Brian De Palma, Michael Cimino, Paul Schrader, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Peter Bogdanovich, influenciados por outro grupo que nos anos 60 já havia dado que falar, casos de Arthur Penn, Norman Jewison, Mike Nichols e Sidney Pollack , bem como nova galeria de actores como Jane Fonda, Al Pacino, Robert De Niro, Meryl Streep, Dustin Hoffman, Jack Nicholson ou Robert Redford.
Porém, ao contrário dos seus pares na realização que tinham como referência a geração anterior, Bogdanovich, que se destacou como crítico na Esquire e no New York Times, e pela sua consistente cinefilia, tal como os seus colegas da Cahiers du Cinéma, os seus ídolos eram realizadores do cinema clássico americano, com destaque para John Ford, sobre o qual escreveu uma monumental obra, Orson Wells e Howard Hawks. Não estranha, pois, que tal como os seus amigos franceses, Truffaut e Godard, tenha também passado para a realização.
A sua estreia na direcção acontece em 1968 com “Alvos”, uma produção de Roger Corman, filme em que Boris Karloff, então já com 80 anos, é um actor de fitas de terror que na estreia do seu último trabalho num drive-in se confronta com um serial killer. Começo auspicioso de Bogdanovich, em que integra extractos de filmes de Corman, como “The Terror”, também com Karloff, que viria a ser confirmado com “A Última Sessão”, 1971, o filme que o catapultou para a fama e o proveito, uma homenagem, mais uma, ao cinema americano dos anos 50, que se desvaneceria ao longo dos tempos, enquanto mantinha uma prolifera actividade como escritor e entrevistador (são conhecidas as sua entrevistas a nomes maiores da sétima arte como Fritz Lang, George Cukor, Raoul Walsh, Sidney Lumet e tantos outros, duma lista rica e distinta, mais tarde publicada numa magnífica colectânea).
A seguir a “A Última Sessão”, em que despontam Jeff Bridges e Cybill Sheperd, avança para uma comédia ao estilo screwball, de que Howard Hawks, um dos seus ícones, foi expoente máximo, “What´s Up Dock”, 1972, com Barbara Streisand e Ryan O’Neal, para voltar a dirigir O’Neal, aqui ao lado da filha, Tatum O’Neal em “Paper Moon”,1973, um road movie no tempo da Grande Depressão e que valeu a Tatum o Óscar de Melhor Actriz Secundária, a mais nova a receber o galardão. Pai e filha ainda voltariam a contracenar em “Nickelodeon”, 1976, de novo com o cinema americano e os seus pioneiros em pano de fundo, e dos barracões onde eram projectados os filmes cujo ingresso custava um nickel .
“Daisy Miller” de 1974, uma adaptação de Henry James, de novo com Cybill Sheperd, sua companheira na altura, e Cloris Leachman, que foi massacrado pela crítica, principalmente a interpretação de Sheperd, é o prenúncio de que os dias de glória estavam de abalada. Volta à comédia, com “As Long Last Love”, 1975, mas depois de “Nickelodeon”, já não consegue voltar à senda do êxito, tudo piorando depois da rodagem de “They All Laughed” (Romance em Nova Iorque), 1981, em que a actriz e antiga playmate, Dorothy Stratten, com quem o realizador mantinha um romance, foi assassinada pelo marido. Entrando em profunda depressão, voltou ao trabalho, mas em obras sem a pujança inicial ou em telefilmes e episódios de séries, algumas de nomeada como “Os Sopranos”.
Quem nos deixou também foi a realizadora italiana Lina Wertmüller, a 8 de Dezembro de 2021. Autora de filmes como “Pasqualino das Sete Beldades”, 1975, que lhe valeu a nomeação para o Óscar da melhor realização de 1977, a primeira nomeação na categoria para uma mulher, ou “Filme de Amor e Anarquia”, 1973, ambos protagonizados por Giancarlo Giannini, seu actor fetiche, que dirigiu em oito peliculas. Assistente de Federico Fellini nos anos 60, fez a sua estreia como realizadora em 1963 com “Os Inactivos”, uma obra de pendor neorrealista, quando o género já tivera melhores dias em Itália.
Em 2019 recebeu o Óscar Honorário pela carreira.
Quem nos deixou também este ano foi o Sidney Poitier, o primeiro actor negro a arrebatar o Óscar de Melhor Actor. A ele voltaremos.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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