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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Tempos e modos da comunicação

A expressão “Galáxia de Gutenberg” foi criada por Marshall McLuhan na obra com o mesmo nome, publicada em 1962. Nela se caracteriza o conjunto de processos e procedimentos desenvolvidos após a criação da primeira impressora, de Johannes Gutenberg, com a qual foi possível imprimir em 1455 a primeira Bíblia.
A partir de então, os livros manuscritos e conservados em “in fólios” com iluminuras cederam progressivamente lugar a obras impressas. Foi assim possível que a difusão dos saberes consolidasse um dos pilares da difusão da ciência e da cultura essenciais ao desenvolvimento da época renascentista.
Entretanto, as técnicas de impressão melhoraram de forma progressiva e, no decurso do século XX, a emergência das máquinas de impressão offset possibilitou resultados de bom nível. Entretanto, as modernas impressoras digitais também já entraram no mercado. São mais perfeitas que as anteriores, mas mais lentas, pelo que não estão vocacionadas para imprimir dezenas, ou centenas de milhares de folhas de jornais, ou revistas, num tempo relativamente curto.
A “Galáxia de Marconi”, designação também criada por Mc Luhan, reforça o conceito de “aldeia global”: de facto, a partir da invenção de Marconi estão criadas as condições para a emergência de novas formas de distribuição da informação a distância: o telefone foi a primeira das invenções, a rádio e a televisão surgiram mais tarde. O denominador comum dos primeiros aparelhos integrados na Galáxia de Marconi concretiza técnicas de comunicação a distância.
Se o telégrafo e o telefone poderão ser considerados como self media prototípicos, a rádio e a televisão já se configuram como mass media, uma vez que comunicam a partir de um centro difusor que emite para um número ilimitado de receptores. As vias de comunicação que estes sistemas utilizam são - no caso dos telefones analógicos - os fios de cobre, enquanto a rádio e a televisão usam sistemas de feixes hertzianos.
A emergência de sistemas de comunicação digital alterou a difusão da  comunicação de forma rápida e, em muitos casos, exponencial. Na segunda década do século XXI vive-se uma mutação profunda nas formas e nos modos da comunicação escrita, oral e visual e, se existem vantagens evidentes no uso de telemóveis, verdadeiros computadores de bolso é fundamental rever processos e procedimentos de ensino e aprendizagem, uma vez que a unilinearidade da leitura e da escrita tradicionais passou a coexistir com processos de comunicação interativa, após o advento do multimédia. E se, nas formas da escrita interactiva se utilizam sons, imagens e textos ligados entre si por ligações dinâmicas, no "novo papiro electrónico”, esse enriquecimento não desvirtua, ou minimiza processos e procedimentos comuns à “galáxia de Gutenberg”, antes a enriquece.
Para uma utilização consistente das potencialidades da comunicação digital considera-se essencial reformatar, ou reciclar conhecimentos e práticas de leitura e escrita tradicionais, de molde a adaptá-las às potencialidades dos novos dispositivos de comunicação numa técnica “win win” dada a facilidade de migração do tradicional para o digital e vice-versa.

Neste contexto é essencial não esquecer a urgência da implementação de duas formas de alfabetização: tradicional e digital. Enquanto a primeira visa reciclar conhecimentos em muitos casos fossilizados, a segunda necessita que muitos docentes e a maioria dos discentes aprendam a ler e escrever  com textos, sons e imagens multimédia integrados em unidades de sentido digital. A velocidade das transformações determina a qualidade da fusão acima mencionada – o que leva autores como Frank Koelsh na obra Infomedia Revolution - a considerar que já estaremos imersos num mundo de “tecnofusão”.

Carlos Correia
(Professor universitário)