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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Ensino superior As duas faces da moeda

22-11-2021

As atitudes de resistência ativa e passiva a ações de inovação ainda são relativamente comuns. O problema dificulta as necessárias melhorias na qualidade do binómio ensino-aprendizagem e, se é certo que as culpas não devem morrer solteiras, não se podem aceitar as insinuações sobre a idade do grupo etário da maioria dos docentes. Se a “idade não é um posto”, sabe-se que muitos são os seniores com mentalidades abertas à inovação. E se a posição de indiferença e pseudo-aceitação parece ser transversal a uma parte significativa do corpo docente, tal sucede porque os vencimentos estão muito desfasados do custo de vida, a mobilidade dos professores jovens obriga a uma vida errante em certos casos durante mais de uma década, além de que se constata que algumas escolas continuam deficientemente equipadas para assumir os reptos pedagógicos e didáticos do século XXI. E se ao nível dos equipamentos a comunidade escolar está, na maioria dos casos, mal servida, como cozinhar “omeletes sem ovos”?
As barbas desta expressão popular já encaneceram, mas a situação, infelizmente, mantém-se. Talvez seja essa a razão que leva a maioria dos professores a usar os materiais de sempre - giz, quadros, manuais, cadernos de apontamentos, enfim, toda a parafernália herdada de séculos anteriores e que acrescentam muitos quilos às mochilas dos estudantes, cujas colunas vertebrais não agradecem.
Também é de elementar justiça constatar que parte significativa da comunidade escolar manipula os sistemas digitais de forma relativamente deficiente, seja porque não teve formação específica, seja porque age como aquele cristão que é devoto, mas não pratica.
Para a cabal compreensão do problema - comum a todos os graus de ensino - é necessário mencionar o encanto discreto do grupo de professores conservadores, alérgicos a inovações e a “modernices”, mas que aplaudem os anúncios de mudanças nas festas em que as autoridades estão presentes, seguros de que “é preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma.”, como ensinou Giuseppe di Lampedusa, no livro “O Leopardo”.
Surgiu há uns meses o anúncio de que a União Europeia decidiu enviar para Portugal e outros países um conjunto de verbas muito importantes das quais uma parte se destina a ser usada no ensino e na inovação. Assim se poderão reforçar as duas faces de uma moeda cujo valor determina a posição relativa de cada cidadão na bolsa de valores do mercado de trabalho e, consequentemente, da vida.
A forma como as verbas vão ser gastas serão objeto de verificação rigorosa por parte de entidades nacionais e internacionais de forma a assegurar a idoneidade de todas as fases do processo.
Perante o ritmo rápido das mudanças que ocorrem em todo o mundo, seja por via das transformações sociais e económicas, seja pela rápida consolidação da inovação científica e tecnológica, cedo o valor facial da moeda adquirida na formação se desvaloriza.
As aprendizagens que utilizam com eficácia processos e procedimentos comuns ao século XXI são portanto decisivas e a sua ausência põe em causa - e em certos casos inviabiliza - a estruturação das traves mestras do futuro, individual e coletivo.
A inovação e a aprendizagem só mantêm a sua validade se forem complementadas com múltiplas ações de formação ao longo da vida, sempre que o cidadão necessitar de reciclar ou até mudar a sua atividade profissional.

Carlos Correia
Professor Universitário
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